Angélica Hodecker passou por transposição uterina, técnica que preserva a fertilidade em casos oncológicos.
04 de Dezembro de 2024 às 13h42

Cabeleireira realiza cirurgia inovadora e engravida após tratamento de câncer

Angélica Hodecker passou por transposição uterina, técnica que preserva a fertilidade em casos oncológicos.

A cabeleireira Angélica Hodecker, natural de Santa Catarina, enfrentou um diagnóstico devastador aos 30 anos: câncer de colo de útero, a terceira forma mais comum de câncer entre mulheres, conforme dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca). Recém-casada e com o sonho de ser mãe, Angélica viu-se diante de decisões que poderiam impactar seu desejo de maternidade.

O tratamento inicial sugerido era drástico, envolvendo a remoção do útero, ovários e trompas, o que significaria o fim de suas esperanças de gestar. “Por que retirar tudo se a doença só afetou o colo do útero?” questionava-se, angustiada.

Após buscar uma segunda opinião, Angélica optou por uma conização, que retirou apenas a parte do colo afetada pela doença, preservando os demais órgãos reprodutivos. Entretanto, a cirurgia não foi suficiente para eliminar o tumor, levando à necessidade de quimioterapia e radioterapia, tratamentos que resultariam em infertilidade definitiva.

Apesar da possibilidade de congelamento de óvulos, Angélica sabia que uma futura gestação exigiria uma barriga de substituição, já que a radioterapia comprometeria a elasticidade e funcionalidade de seu útero. “A alternativa era interromper o tratamento para tentar engravidar rapidamente, mas e se o câncer avançasse?” refletiu.

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Neste momento de incertezas, ela descobriu a transposição uterina, uma técnica inovadora que reposiciona o útero temporariamente, preservando-o dos efeitos da radiação. Desenvolvida pelo cirurgião oncológico Reitan Ribeiro, a técnica foi aplicada pela primeira vez em um caso de câncer de colo de útero com Angélica, estabelecendo um marco na literatura médica.

A transposição uterina consiste em mover os órgãos reprodutivos para a parte superior do abdômen, protegendo-os durante o tratamento. Após a quimioterapia e radioterapia, os órgãos são recolocados em sua posição original. “Estamos percebendo que essa cirurgia é uma alternativa viável e de baixo custo para preservar a fertilidade”, afirma o ginecologista Renato Moretti, envolvido no caso.

Após a cirurgia bem-sucedida, Angélica iniciou seu tratamento oncológico e, em março de 2021, seus órgãos foram recolocados. Durante o acompanhamento, surgiu a possibilidade de engravidar naturalmente, que foi estimulada após a suspensão do anticoncepcional. Em um desfecho surpreendente, Angélica engravidou espontaneamente poucos meses depois.

Isabel, carinhosamente chamada de Bebel, nasceu em 24 de dezembro de 2022, saudável e com 2,2 kg. O nascimento gerou um relato de caso no "Journal of Surgical Oncology", destacando a importância da técnica e da história de Angélica. “Foi mágico. Não quero romantizar a maternidade, mas cheguei a pensar que isso não seria possível um dia”, compartilha a mãe, que agora inspira outras mulheres em situações semelhantes a buscar alternativas para preservar a fertilidade.

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