Luciana Nogueira expressa indignação após julgamento que absolveu militares envolvidos na morte de seu marido.
19 de Dezembro de 2024 às 19h17

Viúva de Evaldo Rosa: “257 tiros não são legítima defesa”

Luciana Nogueira expressa indignação após julgamento que absolveu militares envolvidos na morte de seu marido.

A viúva de Evaldo Rosa, Luciana Nogueira, ainda processa a decisão do Supremo Tribunal Militar (STM) que absolveu os militares envolvidos na morte de seu marido, ocorrida em abril de 2019, no Rio de Janeiro. O músico foi alvejado por 257 tiros disparados por soldados do Exército, que alegaram confundir o veículo da família com um carro roubado.

“Eu já imaginava que seria um julgamento difícil, que sendo militares julgando militares, eles iriam favorecer o lado deles e não iriam se sensibilizar pela minha dor. Mas eu não imaginava que seriam uns votos tão horrorosos da forma que foi. Um ministro falou que a família está atrás de vingança. Eu não estou atrás de vingança. Eu simplesmente queria que a justiça fosse feita pelo absurdo gigantesco que eles cometeram contra a minha família”, afirmou Luciana, visivelmente abalada.

O crime ocorreu no dia 7 de abril de 2019, quando Evaldo dirigia o carro da família, acompanhado de Luciana, seu filho, o sogro e uma amiga, a caminho de um chá de bebê. Ao passarem pelo bairro de Guadalupe, na zona norte do Rio, o veículo foi metralhado por militares que estavam em uma operação de Garantia da Lei e da Ordem. A confusão resultou na morte de Evaldo e ferimentos no sogro, além da morte do catador de material reciclável Luciano Macedo, que tentou ajudar a família durante os disparos.

“Todas as provas são bem nítidas. Você não vai atirar 257 vezes por legítima defesa, 257 tiros você atira para matar. Até mesmo porque a gente não passou perigo nenhum para eles, nós somos pessoas de bem. Aí eles querem alegar que porque tem tráfico pela redondeza, naquele momento eles estavam muito nervosos”, contestou Luciana, ressaltando a gravidade da situação.

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Após o julgamento, doze militares foram denunciados por duplo homicídio qualificado e tentativa de homicídio. Em primeira instância, oito foram condenados, incluindo o tenente que coordenava a operação, que recebeu uma pena de 31 anos de prisão. No entanto, a defesa dos réus recorreu ao STM, que decidiu, por maioria, absolver os militares, alegando dúvidas sobre a origem do disparo que matou Evaldo, sugerindo que ele teria ocorrido durante uma troca de tiros.

A decisão gerou revolta em Luciana: “Eles buscaram fundamentos que não existiram, né? Foi um resultado muito lamentável. Eles continuam com a vida deles e eu e meu filho, a gente vai continuar com um trauma pelo resto das nossas vidas”. Além disso, a condenação pela morte de Luciano Macedo foi requalificada de homicídio doloso para homicídio culposo, aceitando a tese de legítima defesa, resultando em penas reduzidas para os militares.

Somente a ministra Maria Elizabeth Rocha, a única mulher da corte, votou para manter as condenações originais, argumentando que o caso evidencia o racismo estrutural na sociedade brasileira e a abordagem violenta das forças de segurança em relação a pessoas negras e pobres. “Autorizar o disparo de fuzis, incessantemente, até a morte de meros suspeitos, em função da periculosidade de um local, é colocar a população em risco iminente, o que é inaceitável em um Estado democrático de direito”, defendeu a ministra.

Luciana expressou sua gratidão à ministra: “Eu parabenizo muito a ministra, pelas palavras dela. Eu acredito que ela se ponha no meu lugar, ela é mulher igual a mim, é mãe igual a mim, é esposa igual a mim. Por isso, eu acredito que pra ela sentir a minha dor foi bem mais fácil. Porque pros outros ministros que estavam ali, a nossa vida parece insignificante”.

A família de Evaldo ainda considera recorrer ao próprio STM e ao Supremo Tribunal Federal, mas Luciana não tem certeza se o esforço valerá a pena. “Agora que tinha todas as evidências, para que ocorresse um resultado justo, não ocorreu, então eu vou continuar lutando, vou continuar brigando, e será que lá na frente eu vou ter um resultado positivo?”, questionou, em um desabafo que reflete a dor e a luta por justiça.

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