Bolsonaro critica Lei Rouanet após vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro
Ex-presidente questiona incentivo cultural que não foi utilizado pelo filme 'Ainda Estou Aqui', premiado na cerimônia.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) utilizou suas redes sociais nesta segunda-feira (6) para criticar a Lei Rouanet, um incentivo fiscal criado em 1991 para apoiar projetos culturais no Brasil. A crítica veio logo após a vitória da atriz Fernanda Torres no Globo de Ouro, onde ela foi premiada como Melhor Atriz em Filme de Drama pelo seu papel no longa-metragem 'Ainda Estou Aqui'.
Na postagem, Bolsonaro compartilhou um vídeo gravado em dezembro de 2024, onde um internauta denuncia a chamada 'indústria das balsas', uma expressão que o ex-presidente frequentemente usa para criticar a gestão atual e a falta de investimentos em infraestrutura. Ele afirmou: “Parece vídeo repetido, mas não é. Outro brasileiro denunciando a volta da ‘indústria das balsas’. O investimento em infraestrutura é rechaçado pela gestão Lula e, coincidentemente, jamais cobrado por outros governantes de outrora. Enquanto isso, a Rouanet…”
É importante destacar que a Lei Rouanet, desde 2007, proíbe o financiamento de longas-metragens de ficção, limitando-se a obras de curta e média metragem, além de documentários. Portanto, o filme 'Ainda Estou Aqui', que tem 2 horas e 19 minutos de duração e é uma ficção baseada em fatos reais, não se qualifica para receber recursos dessa lei.
O longa-metragem, dirigido por Walter Salles, foi produzido com recursos privados, provenientes de empresas como VideoFilmes, RT Features e MACT Productions. Essas produtoras têm um histórico de sucesso em festivais de cinema, com obras reconhecidas internacionalmente, como 'Central do Brasil' e 'Call Me By Your Name'.
A vitória de Fernanda Torres, que interpretou Eunice Paiva, uma advogada e ativista pelos direitos humanos, foi um marco importante na cerimônia do Globo de Ouro, onde ela superou concorrentes de peso como Nicole Kidman e Angelina Jolie. O filme 'Ainda Estou Aqui' aborda a história de Eunice após o desaparecimento de seu marido, Rubens Paiva, ex-deputado federal que foi sequestrado e morto durante a ditadura militar brasileira.
Além da crítica à Lei Rouanet, Bolsonaro também insinuou que os recursos da lei poderiam ser utilizados para investimentos em infraestrutura, questionando se os 18 bilhões de reais disponíveis poderiam ser aplicados em obras necessárias. Essa afirmação, no entanto, ignora as restrições legais que limitam o uso do incentivo.
A assessoria de imprensa do filme 'Ainda Estou Aqui' reafirmou que não houve participação de financiamento público no desenvolvimento do longa, enfatizando que todos os recursos foram levantados de forma privada.
O debate sobre a Lei Rouanet e seu impacto na cultura brasileira continua a ser um tema polêmico, especialmente em um contexto onde a produção cinematográfica enfrenta desafios financeiros e criativos. A crítica de Bolsonaro reflete uma visão mais ampla sobre o papel do governo no incentivo à cultura e à arte no Brasil.
Com a vitória de Fernanda Torres, o filme 'Ainda Estou Aqui' não apenas conquistou prêmios, mas também trouxe à tona discussões sobre a importância do financiamento cultural e os desafios enfrentados por cineastas brasileiros em um cenário de restrições orçamentárias.
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