Análise das amostras de água potável não revela contaminação por norovírus; origem das infecções permanece desconhecida.
15 de Janeiro de 2025 às 15h20

Investigação sobre surto de virose no litoral de SP não encontra norovírus em água

Análise das amostras de água potável não revela contaminação por norovírus; origem das infecções permanece desconhecida.

A investigação sobre o surto de virose que afetou o litoral de São Paulo concluiu que não há contaminação por norovírus nas amostras de água potável analisadas na região. O norovírus é um micro-organismo frequentemente associado a surtos de gastroenterite, sendo considerado um dos principais responsáveis pelos casos registrados.

Segundo informações da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP), as amostras coletadas nos municípios de Praia Grande e Guarujá não apresentaram alterações ou a presença de outros vírus. Essa análise foi realizada pelo Instituto Adolfo Lutz, que na última semana identificou a presença do norovírus em amostras de fezes humanas coletadas nas duas cidades.

A origem da infecção, no entanto, ainda não foi esclarecida pelas autoridades de saúde. A SES-SP informou que foram realizadas reuniões técnicas com representantes de saúde dos nove municípios da Baixada Santista para discutir as medidas a serem adotadas em casos de gastroenterocolite aguda, uma doença provocada pela infecção viral.

O norovírus é conhecido por sua alta contagiosidade e é excretado em grandes quantidades nas fezes de pessoas infectadas. A transmissão pode ocorrer principalmente pela ingestão de água contaminada, o que torna a qualidade da água um foco importante de investigação.

Pesquisas indicam que muitas pessoas infectadas eliminam o vírus nas fezes por dias ou até semanas antes e depois do surgimento dos sintomas, o que pode levar à detecção do agente infeccioso em águas residuais, mesmo que apenas alguns indivíduos estejam contaminados.

O professor Oscar Bruna-Romero, especialista em imunologia e microbiologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), relaciona a contaminação à falta de monitoramento adequado da qualidade da água, especialmente em períodos de alta demanda populacional, além da ausência de tratamento e canalização do esgoto.

Além da água potável, o professor destaca que esse tipo de infecção é comum entre pessoas que consomem pequenas quantidades de água de rios e mares que estejam contaminados com fezes. O despejo clandestino de esgoto nas praias é uma das causas que comprometem a qualidade da água, segundo Marcelo Otsuka, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

As chuvas também contribuem para a contaminação das águas do mar, uma vez que aumentam o volume dos rios que desaguam no oceano, levando dejetos consigo, conforme explica a virologista Fernanda Marcicano Burlandy, coordenadora do serviço de referência regional para rotavírus e norovírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

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Após o surto, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) iniciou testes e inspeções nas redes de esgoto das cidades de Itanhaém e Guarujá para identificar ligações clandestinas de despejo de água de chuva nos sistemas operados pela companhia. Os trabalhos começaram em 14 de novembro e devem se estender ao longo da semana.

A Sabesp alertou que, em épocas de chuvas intensas, a entrada de água em excesso nas redes de esgoto pode provocar vazamentos nas ruas. A companhia destacou que a baixa cobertura de drenagem no litoral paulista contribui para a ocorrência de conexões irregulares.

No auge do surto, quando a procura por atendimento médico aumentou significativamente e famílias inteiras estavam contaminadas, a Prefeitura do Guarujá acionou a Sabesp para investigar possíveis vazamentos e ligações clandestinas de esgoto na região da Enseada, que poderiam estar relacionados aos casos de virose.

A Sabesp afirmou que tomou medidas para verificar as solicitações da prefeitura e prestou os esclarecimentos necessários à Secretaria Municipal de Meio Ambiente, garantindo que o sistema de esgoto da Baixada Santista estava operando normalmente.

Além do contato com água contaminada, a transmissão do norovírus pode ocorrer pelo consumo de alimentos infectados, ao tocar objetos contaminados e levar as mãos à boca, ou pela interação direta entre pessoas, como quando um indivíduo infectado toca outro com as mãos sujas.

O coordenador do Laboratório de Virologia do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Gubio Soares, alerta que “uma só pessoa pode contaminar todos em uma casa. Norovírus não é brincadeira, se espalha com toda a força possível”.

Segundo o infectologista Thiago Morbi, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, o norovírus tende a se disseminar quando não há controle das autoridades, embora essa capacidade de propagação geralmente não sustente surtos prolongados, que costumam se extinguir rapidamente.

Para evitar surtos de norovírus, é fundamental manter uma boa higiene, como lavar as mãos, higienizar alimentos e utilizar água de qualidade, preferencialmente filtrada, fervida ou mineral. É importante evitar galões de procedência desconhecida e estar atento às condições das praias, pois o esgoto pode comprometer a qualidade da água, especialmente para a proteção de crianças.

Em casos de vômito, a limpeza do local deve ser feita com água sanitária, descartando o pano utilizado.

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