A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) determinou a suspensão da coleta de íris pela Tools for Humanity, startup de Sam Altman.
25 de Janeiro de 2025 às 18h14

ANPD suspende coleta de íris em troca de criptomoedas por startup em São Paulo

A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) determinou a suspensão da coleta de íris pela Tools for Humanity, startup de Sam Altman.

A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) anunciou, nesta sexta-feira, 24, a suspensão da coleta de íris realizada pela Tools for Humanity, uma startup cofundada por Sam Altman, CEO da OpenAI. Desde novembro, a empresa opera em São Paulo oferecendo um serviço que troca o escaneamento de íris por criptomoedas, como o bitcoin. A partir deste sábado, 25, a Tools for Humanity deve interromper qualquer benefício financeiro relacionado à coleta de íris no Brasil.

Em nota, a empresa declarou que “está em conformidade com todas as leis e regulamentos do Brasil” e que “relatos imprecisos recentes e atividades nas mídias sociais resultaram em informações falsas para a ANPD”. A Tools for Humanity afirmou estar em contato com a ANPD e expressou confiança em encontrar uma solução que permita a continuidade do serviço para os brasileiros.

A ANPD fundamentou sua decisão na preocupação de que o benefício financeiro oferecido pela startup poderia incentivar a coleta de dados pessoais sem o devido consentimento. De acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), o consentimento para o tratamento de dados pessoais sensíveis, como os dados biométricos, deve ser livre, informado e inequívoco, além de ser fornecido de maneira específica e destacada.

Para se cadastrar no sistema da Tools for Humanity, denominado World ID, os usuários precisam realizar reconhecimento facial e escaneamento de íris, que são considerados dados biométricos sensíveis. Em troca, a startup oferece algumas dezenas de “moedas digitais” (worldcoins) que podem ser convertidas em dinheiro real por meio do aplicativo. Os usuários podem receber entre R$ 300 e R$ 700, dependendo da cotação das criptomoedas.

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O serviço tem atraído um número crescente de adeptos em São Paulo, a primeira cidade brasileira a participar do projeto. Atualmente, mais de 400 mil pessoas estão registradas, e a empresa possui 48 pontos de captação de imagens de íris. Além disso, mais de um milhão de downloads do aplicativo foram realizados, e muitos vídeos de participantes circulam nas redes sociais, especialmente no TikTok. A análise do Estadão revela que muitos participantes são de grupos vulneráveis e aceitam o registro da íris em troca de dinheiro rápido.

Desde 2024, a ANPD, por meio da Coordenação-Geral de Fiscalização (CGF), tem monitorado o uso de dados biométricos pela nova rede social. Segundo a Tools for Humanity, o World ID visa comprovar que o titular é um ser humano único e vivo, promovendo maior segurança digital em um contexto de crescente utilização de ferramentas de inteligência artificial.

A ANPD classificou como “grave” o tratamento dispensado pela empresa aos dados pessoais coletados. A CGF destacou que a coleta de dados biométricos sensíveis é particularmente preocupante, pois os dados não podem ser excluídos e a revogação do consentimento é irreversível. A agência também exige que a startup identifique em seu site o encarregado pelo tratamento de dados pessoais.

Em uma nota oficial, a ANPD determinou a suspensão da oferta de criptomoedas ou qualquer outra compensação financeira pela coleta de íris. A medida preventiva entra em vigor neste sábado, 25 de janeiro, e a empresa deve se adequar às exigências estabelecidas pela ANPD.

Em novembro de 2024, a ANPD instaurou um processo de fiscalização para investigar o tratamento de dados biométricos para a criação do World ID. A análise da CGF concluiu que a oferta de compensação financeira poderia interferir na manifestação de vontade dos indivíduos, especialmente entre aqueles em situação de vulnerabilidade.

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