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Hospital em São Paulo utiliza furadeiras domésticas em cirurgias ortopédicas
Prática é proibida pela Anvisa e levanta preocupações sobre a segurança dos pacientes.
Um grave incidente de saúde pública foi revelado no Hospital Nossa Senhora do Pari, localizado no bairro do Canindé, em São Paulo. De acordo com uma reportagem da TV Globo, a unidade tem sido flagrada utilizando furadeiras domésticas em procedimentos cirúrgicos, especialmente em cirurgias ortopédicas. As imagens exibidas mostram os equipamentos com marcas de sangue e fios desencapados, o que representa uma séria infração às normas de segurança sanitária.
Um funcionário do hospital, que preferiu não se identificar, afirmou que a escolha por esses equipamentos se deve ao seu custo mais baixo. “Tem uma pessoa responsável por comprar as coisas do hospital e ela compra essas [caseiras] porque diz que é mais barato e também para manutenção é mais barato”, disse o funcionário em entrevista à emissora.
O uso de furadeiras comuns em cirurgias é proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2008, devido ao risco que representam para a saúde dos pacientes. As furadeiras não são registradas pelo órgão regulador e não possuem controle de rotação, o que pode levar a sérios danos durante os procedimentos.
Um caso emblemático envolve um motociclista que, após passar por uma cirurgia no hospital em 2020, perdeu a mobilidade do braço direito. Ele processou a instituição, relatando que sentiu dor intensa durante o procedimento. “Eu sentia tudo, eles me cortando, me batendo, foi um horror. Eu não consigo trabalhar porque meu braço não acompanha o movimento do outro”, afirmou Eduardo Santos.
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Outro relato alarmante é o de uma adolescente de 14 anos que contraiu uma infecção bacteriana após uma cirurgia no tornozelo realizada em 2023. A jovem acordou durante o procedimento e ouviu o som de uma furadeira doméstica. Três dias após a cirurgia, a área operada começou a infeccionar, levando sua família a retornar ao hospital. “A médica chamou a equipe dela e falou 'vamos ter que tirar os seis parafusos e a placa [metálica] porque ela pegou uma infecção'”, contou a mãe da jovem.
Em resposta às denúncias, o Hospital Nossa Senhora do Pari afirmou que os equipamentos utilizados na unidade são aprovados pela Anvisa e que a situação está sendo discutida internamente. A diretoria do hospital também declarou que os itens são periodicamente fiscalizados pelos órgãos competentes.
A Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo informou que a fiscalização do hospital é responsabilidade do Governo do Estado, através do Grupo Estadual de Vigilância Sanitária. A licença do hospital está vigente até abril de 2025. A Secretaria também destacou que o Centro de Vigilância Sanitária realizou uma inspeção na unidade e encontrou equipamentos e materiais esterilizantes regulares.
De acordo com a nota técnica nº 40/2017 da Anvisa, as furadeiras domésticas não podem ser utilizadas em ambientes cirúrgicos devido à falta de esterilização adequada e ao risco de contaminação. A norma ressalta que o uso dessas ferramentas em cirurgias é considerado uma infração sanitária e pode levar a sanções legais.
O caso do Hospital Nossa Senhora do Pari destaca a necessidade urgente de revisão e fiscalização rigorosa das práticas de saúde em unidades públicas, especialmente aquelas que atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). As autoridades devem agir rapidamente para garantir a segurança dos pacientes e a conformidade com as normas sanitárias.
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