A Apple confirmou a remoção dos apps Blued e Finka, que atendem à comunidade LGBTQIA+, da loja chinesa, em meio a crescente censura.
11 de Novembro de 2025 às 12h23

China retira aplicativos de namoro LGBTQIA+ e intensifica repressão digital

A Apple confirmou a remoção dos apps Blued e Finka, que atendem à comunidade LGBTQIA+, da loja chinesa, em meio a crescente censura.

As autoridades da China determinaram a retirada de dois aplicativos de namoro voltados para a comunidade LGBTQIA+, o Blued e o Finka, das lojas digitais do país. A decisão foi confirmada pela Apple nesta terça-feira (11), em meio a um contexto de repressão crescente contra a diversidade sexual no país.

A retirada dos aplicativos ocorreu após uma ordem da Administração do Ciberespaço da China (CAC), responsável pela regulação da internet no país. Em comunicado, um porta-voz da Apple afirmou: “Após uma ordem da Administração do Ciberespaço da China, removemos esses dois aplicativos apenas da loja chinesa”. A empresa também ressaltou que respeita as leis dos países em que opera.

Usuários relataram que os aplicativos desapareceram de seus smartphones durante o último fim de semana, levando à confirmação da Apple sobre a remoção. Enquanto o Blued e o Finka foram retirados da App Store e da Google Play Store, uma versão limitada do Blued ainda está disponível na loja chinesa, permitindo que usuários que já o tinham instalado continuem acessando o aplicativo.

Ambos os aplicativos pertencem ao grupo BlueCity, sediado em Hong Kong, e juntos contavam com dezenas de milhões de usuários. O Blued, lançado em 2012, é considerado o maior aplicativo de namoro gay da Ásia e também oferece serviços de saúde voltados para a prevenção do HIV/AIDS.

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A medida de remoção dos aplicativos faz parte de uma campanha oficial da CAC, que visa combater conteúdos considerados “nocivos” e que promovem “visões negativas da vida”. Essa ofensiva inclui a remoção de perfis e publicações em redes sociais, transmissões ao vivo e conteúdos em plataformas de vídeos curtos.

O advogado Zhao Hu, conhecido por sua atuação na defesa dos direitos LGBTQIA+, expressou surpresa com a decisão, chamando-a de “inesperada” e “sem qualquer explicação”. Hu Zhijun, cofundador da PFLAG China, uma organização que defende a comunidade LGBTQIA+, também criticou a remoção, afirmando que os aplicativos ajudavam homens gays a “ter uma vida mais estável e encontrar parceiros para relações íntimas”.

Embora a homossexualidade tenha sido descriminalizada na China em 1997 e retirada da lista de transtornos mentais em 2001, o país ainda não reconhece o casamento entre pessoas do mesmo sexo e não oferece proteção legal contra discriminação por orientação sexual ou identidade de gênero. Nos últimos anos, o governo chinês tem intensificado a censura digital, fechando organizações civis e bloqueando perfis em redes sociais.

A repressão à comunidade LGBTQIA+ se intensificou sob o governo de Xi Jinping, que passou a associar o ativismo LGBTQIA+ a “influências estrangeiras” e “valores ocidentais”. A CAC tem liderado campanhas para “limpar” a internet de conteúdos considerados inadequados, incluindo expressões de afeto entre pessoas do mesmo sexo.

A retirada dos aplicativos Blued e Finka é mais um capítulo dessa ofensiva. Em 2022, o aplicativo Grindr já havia sido banido do país. Especialistas alertam para os impactos na saúde mental e na segurança de indivíduos que já enfrentam forte pressão familiar e social, em um contexto onde a comunidade LGBTQIA+ na China, que conta com cerca de 70 milhões de pessoas, vê seus espaços de convivência cada vez mais limitados.

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