Especialistas analisam o aumento dos preços dos alimentos e as implicações políticas para o presidente Lula.
26 de Novembro de 2024 às 12h58

Promessa de Lula durante campanha, inflação da picanha preocupa brasileiros

Especialistas analisam o aumento dos preços dos alimentos e as implicações políticas para o presidente Lula.

O aumento dos preços da carne, especialmente da picanha, tem gerado preocupação entre os brasileiros e acende um alerta para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em uma feira na Zona Oeste de São Paulo, a vendedora Rose Tragl, de 47 anos, expressa sua preocupação em repassar os aumentos de preço aos clientes. "Aquele filé de costela era para custar R$ 79,90 o quilo, mas mantivemos em R$ 69,90 para não perder o cliente", revela a feirante.

O preço da carne subiu 7,54%, conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), divulgado pelo IBGE. Este levantamento, realizado entre 12 de outubro e 12 de novembro, mostra que a inflação acumulada nos últimos 12 meses chegou a 4,77%, impulsionada principalmente pelo aumento dos alimentos e das tarifas de energia elétrica.

Com as festas de fim de ano se aproximando, os brasileiros precisam ajustar suas compras, e a expectativa é que os preços dos alimentos continuem a subir. Especialistas identificam três fatores principais para essa alta: condições climáticas adversas, uma economia interna aquecida e a valorização do dólar.

A situação é especialmente preocupante para as famílias de baixa renda, que sentem mais intensamente o impacto no bolso. Além disso, essa "inflação da picanha" pode ter consequências diretas na popularidade do governo Lula, que prometeu que os brasileiros voltariam a comer picanha com maior frequência.

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André Braz, economista da Fundação Getúlio Vargas, explica que a seca afetou diversas safras e a pecuária, aumentando os custos de produção. O cenário é agravado pela demanda crescente, tanto interna quanto externa. O mercado internacional, impulsionado pela valorização do dólar, torna a carne brasileira mais atraente, resultando em um aumento de 30% nas exportações de carne em comparação ao ano anterior.

O efeito do aumento nos preços da carne não se restringe apenas ao setor alimentício. Os índices de inflação geral também são afetados, uma vez que a cesta básica em diferentes regiões do Brasil inclui uma quantidade significativa de carne. Isso faz com que o aumento no preço da carne seja um dos principais responsáveis pelo crescimento das despesas das famílias.

Além disso, a inflação impacta de maneira desigual as diferentes faixas de renda. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a inflação para as famílias de renda mais baixa foi de 4,99% em outubro, enquanto para as mais ricas o índice ficou em 4,44%. Essa diferença ocorre porque as famílias de baixa renda destinam uma parcela maior de seu orçamento a alimentos e serviços essenciais.

Para o futuro, as perspectivas não são otimistas. Especialistas preveem que a pressão inflacionária sobre os preços da carne deve persistir nos próximos meses, com a expectativa de que não haja redução significativa nos preços até o final do ano. No entanto, há a possibilidade de uma leve desaceleração ou mesmo uma queda nos preços no primeiro trimestre de 2025, devido a um aumento na oferta.

Politicamente, o cenário é desafiador para Lula, que prometeu melhorar a situação econômica do país. A inflação crescente pode prejudicar suas ambições políticas e a estabilidade de seu governo, especialmente à medida que se aproxima o período eleitoral.

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