Promoção com transferências de R$ 0,01 levanta questões sobre conformidade com a LGPD e privacidade.
27 de Novembro de 2024 às 08h34

Campanha de Black Friday do Burger King gera debate sobre uso de dados de clientes

Promoção com transferências de R$ 0,01 levanta questões sobre conformidade com a LGPD e privacidade.

Nos últimos dias, clientes do Clube BK, programa de fidelidade do Burger King, foram surpreendidos com transferências de apenas R$ 0,01 via Pix. Essa ação, que visa promover uma campanha de Black Friday, sugere que, com um acréscimo de R$ 0,24, é possível adquirir um par de nuggets de frango. Embora a estratégia de marketing tenha sido considerada inovadora, ela gerou discussões acaloradas nas redes sociais sobre o uso de dados pessoais dos consumidores.

No Instagram, as reações foram majoritariamente positivas, com usuários comentando sobre a promoção de forma descontraída. No entanto, no LinkedIn, a percepção foi diferente, com alguns internautas classificando a ação como invasiva.

O consultor de branding e marketing, Marcos Bedendo, questionou a possibilidade de essa prática se tornar comum, levantando preocupações sobre a saturação de notificações no extrato bancário dos usuários. Ele ressaltou que, embora o envio de mensagens de R$ 0,01 tenha se tornado uma forma popular de comunicação no Brasil, a utilização dessa abordagem por empresas pode desvirtuar seu caráter lúdico.

Por outro lado, o professor Maurício Felício, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), defendeu que a estratégia do Burger King é uma forma eficaz de engajamento com os clientes, especialmente durante um período onde os consumidores esperam receber benefícios. Segundo ele, a inovação é parte da identidade da marca, que sempre busca desafiar o mercado.

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A diretora de marketing do Burger King no Brasil, Giulia Queiroz, explicou em nota que a campanha foi planejada para surpreender os clientes e que todos os dados utilizados foram coletados com o consentimento prévio dos usuários, em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

De acordo com a empresa, não foram coletadas informações de chaves Pix, mas sim tratados os dados fornecidos no momento do cadastro no aplicativo do Burger King. Para participar do Clube BK, os clientes precisam informar dados como CPF, telefone e e-mail, que podem ser utilizados como chaves Pix.

O advogado Gabriel Barreira Bressan alertou que esse tipo de iniciativa pode levantar questões sobre a transparência no uso de dados, um princípio fundamental da LGPD. Ele enfatizou que, se os consumidores não consentiram explicitamente para esse tipo de comunicação, a prática pode ser considerada uma violação da lei.

A advogada Bruna Oliveira também destacou que o consentimento deve ser livre e específico para qualquer ação promocional, incluindo comunicações via Pix. A insegurança dos consumidores ao receber notificações inesperadas pode gerar questionamentos sobre a legitimidade das mensagens.

Embora a utilização do sistema de pagamentos instantâneos como estratégia de marketing possa ser mais econômica do que campanhas tradicionais, Bressan alertou que pode haver implicações legais, uma vez que o Banco Central regula o uso do Pix e a utilização para fins não financeiros pode ser questionada sob a ótica das normas bancárias.

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