Quadrilha vazou dados pessoais de 120 milhões de brasileiros em esquema criminoso
Dados de juízes, desembargadores e cidadãos comuns foram acessados por uma organização criminosa, diz polícia.
Uma organização criminosa que atuava em diversas regiões do Brasil é responsável pelo vazamento de dados de pelo menos 120 milhões de brasileiros, conforme informações da Polícia Civil do Estado de São Paulo. Dados pessoais de juízes, desembargadores e cidadãos comuns foram acessados e, possivelmente, vendidos para fins ilícitos.
O delegado Everton Contelli, coordenador da Unidade de Inteligência da Polícia Civil, afirmou que "não há dúvidas de que um de cada dois brasileiros teve seus dados vazados. Se considerarmos a população economicamente ativa, essa proporção se torna ainda maior. Os dados estão sendo utilizados para incrementar crimes cibernéticos, e qualquer pessoa pode ser vítima".
As investigações, que duraram um ano, foram iniciadas após o vazamento de dados do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP). Durante a operação realizada na manhã de quinta-feira, 28, policiais civis cumpriram nove mandados de busca e apreensão na região de São José do Rio Preto.
Contelli destacou que a quadrilha extraiu 170 mil dados de servidores do governo do estado do Rio de Janeiro, afirmando que "conseguimos alcançar o call center do crime. Milhões de dados de funcionários públicos, policiais e da população brasileira estavam nas mãos dos criminosos".
A Polícia Civil alertou que os dados de uma grande parte da população estão sob risco, o que afronta a Lei Geral de Proteção de Dados e facilita a prática de crimes cibernéticos. O grupo investigado é composto por sete pessoas que comercializavam dados de alguns dos principais bancos digitais e empresas de telefonia do país, utilizando técnicas de enriquecimento para aumentar o valor de mercado dos arquivos.
Entre os clientes da quadrilha estão empresas de telemarketing, profissionais liberais e criminosos que utilizam os dados para lavagem de dinheiro e engenharia social em golpes digitais. O delegado não descarta a possibilidade de que as informações possam ser usadas para crimes violentos. Ele mencionou que alguns policiais do Rio de Janeiro, que foram mortos recentemente, estavam entre os dados acessados pela organização.
Os mandados de busca foram cumpridos em diversas cidades, incluindo São Paulo, Campinas, Praia Grande, Bauru e Taubaté, além de Londrina e Uraí, no Paraná. Os investigados responderão por associação criminosa, invasão de dispositivo informático e violação de segredo profissional.
A operação desta quinta-feira está relacionada à Operação Cyberconnect, que ocorreu no último dia 7, resultando em 103 mandados de busca e 19 prisões, além da apreensão de 107 celulares e 132 IMEIs em 27 cidades de São Paulo e outros estados. O nome da operação foi escolhido em analogia ao tatu-canastra, que rompe colmeias para extrair seu alimento.
A reportagem aguarda retorno do TJSP e do Governo do Rio de Janeiro. Os nomes dos investigados não foram revelados pela polícia, impossibilitando a reportagem de entrar em contato com suas defesas. O espaço permanece aberto para eventuais manifestações.
Veja também: