Paulo de Méo Filho lidera pesquisa para criar pílula que transforma bactérias intestinais e mitiga impacto climático.
29 de Novembro de 2024 às 07h28

Cientista brasileiro desenvolve projeto inovador para reduzir metano de vacas nos EUA

Paulo de Méo Filho lidera pesquisa para criar pílula que transforma bactérias intestinais e mitiga impacto climático.

O cientista brasileiro Paulo de Méo Filho, em colaboração com a Universidade da Califórnia (UC) em Davis, está à frente de um projeto inovador que visa reduzir a emissão de metano pelas vacas, um dos principais gases de efeito estufa. O experimento envolve o bezerro conhecido como "Thing 1", que, com apenas dois meses, já participa de uma pesquisa destinada a transformar as bactérias intestinais dos bovinos, diminuindo a produção desse gás prejudicial ao clima.

A pecuária é responsável por uma parcela significativa das emissões de metano, o que coloca a indústria sob crescente escrutínio em relação ao impacto ambiental. Segundo o professor Ermias Kebreab, especialista em ciências animais da UC, "quase metade do aumento da temperatura global até agora se deve ao metano". Este gás, embora se decomponha mais rapidamente que o dióxido de carbono, tem um efeito muito mais potente no aquecimento global.

O metano permanece na atmosfera por cerca de 12 anos, enquanto o dióxido de carbono pode levar séculos para se dissipar. Kebreab alerta que, se as emissões de metano forem reduzidas de forma imediata, os efeitos positivos podem ser observados rapidamente nas temperaturas globais.

Durante o experimento, Paulo de Méo Filho utiliza um tubo longo para coletar amostras do líquido do rúmen de "Thing 1", onde residem os microrganismos responsáveis pela conversão do hidrogênio em metano. Estudos indicam que uma única vaca pode liberar cerca de 100 kg de gás metano por ano, o que torna a pesquisa ainda mais urgente.

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Como parte do experimento, os bezerros recebem uma dieta enriquecida com algas marinhas, que tem mostrado potencial para reduzir a produção de metano. A equipe de pesquisa também investiga a possibilidade de introduzir microrganismos geneticamente modificados que absorvam hidrogênio, eliminando assim as bactérias produtoras de metano.

No entanto, os cientistas agem com cautela. Matthias Hess, diretor do laboratório na UC em Davis, enfatiza que "não podemos simplesmente eliminar as bactérias produtoras de metano", pois isso poderia causar o acúmulo de hidrogênio, prejudicando a saúde dos animais. "Os microrganismos são criaturas sociais que dependem da interação entre si para o equilíbrio do ecossistema digestivo", explica.

O projeto de pesquisa, que conta com o apoio do Instituto Genômica Inovadora (IGI) da UC em Berkeley, busca identificar e alterar geneticamente os microrganismos corretos para substituir aqueles que produzem metano. Os resultados esperados incluem não apenas a redução das emissões, mas também um aumento na eficiência alimentar dos bovinos.

O financiamento para essa ambiciosa pesquisa é de 70 milhões de dólares (aproximadamente R$ 419 milhões), com um prazo de sete anos para alcançar os avanços desejados. Kebreab, que estuda práticas de pecuária sustentável, critica as propostas de redução do consumo de carne como solução para as questões climáticas, especialmente em países em desenvolvimento, onde a produção de carne é essencial para a segurança alimentar.

"Não podemos dizer a países como a Indonésia, onde 20% das crianças menores de cinco anos enfrentam problemas de crescimento, que não devem comer carne", conclui Kebreab, ressaltando a necessidade de soluções viáveis que não comprometam a saúde pública.

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