Operações irregulares utilizam dados de brasileiros sem autorização; Ministério da Fazenda promete combate às fraudes.
02 de Dezembro de 2024 às 16h35

Fraudes em apostas online: vítimas de 'bets chinesas' enfrentam ameaças e prejuízos

Operações irregulares utilizam dados de brasileiros sem autorização; Ministério da Fazenda promete combate às fraudes.

BRASÍLIA – A operação das chamadas “bets chinesas”, que promovem apostas online de forma irregular, tem se apropriado indevidamente de dados pessoais de brasileiros para abrir contas bancárias. Esses dados são utilizados para movimentar valores em jogos como o popular ‘tigrinho’. As vítimas, muitas vezes sem saber que tiveram seus nomes e CPFs utilizados, enfrentam ameaças de apostadores que também se consideram lesados e não recebem os prêmios que acreditam ter direito.

De acordo com investigações, os golpistas, que geralmente são estrangeiros, utilizam brasileiros como “laranjas” para registrar empresas e contas que dão a aparência de legalidade. Esses registros são feitos no sistema oficial de solicitação de novas casas de apostas do governo federal. Enquanto os pedidos aguardam análise, os criminosos usam CNPJs e números de protocolo para simular a legalidade de sites que não deveriam estar operando.

Uma das vítimas, identificada como Bárbara (nome fictício), de 25 anos, natural de Cachoeirinha (RS), teve seu nome associado a pelo menos cinco empresas abertas sem seu consentimento. Sua cunhada, cooptada por um estrangeiro, cadastrou as empresas em troca de R$ 600. Bárbara, ao ser contatada, afirmou que não tinha ideia de que estava sendo usada em um esquema fraudulento. No entanto, seus dados foram utilizados para abrir uma conta em uma fintech, que recebeu depósitos feitos por apostadores sem seu conhecimento.

No início de novembro, um grupo de apostadores que não recebeu o prêmio prometido pela plataforma encontrou o número de celular de Bárbara ao investigar a empresa para a qual haviam depositado. A partir daí, começaram a ameaçá-la, mencionando até mesmo familiares. Um dos apostadores chegou a dizer: “Não tô querendo ser pilantra, só quero meu ‘milhão’”.

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As chamadas “bets chinesas” oferecem jogos como o do ‘tigrinho’, mas operam sem critérios claros de funcionamento e sem garantias de vitória. Atualmente, apenas 101 empresas possuem autorização para operar, em um período que o governo se refere como “adequação”, que vai até 31 de dezembro.

Outra vítima, Matheus Marzzio de Paula, de 27 anos, morador de Aparecida de Goiânia (GO), relatou ter recebido mensagens ameaçadoras por causa de sua associação a uma empresa utilizada em transações de apostas. Inicialmente, ele se mostrou confuso sobre a situação, mas com o tempo, alterou sua versão, afirmando que a empresa era apenas um gateway de pagamentos.

Uma das empresas que frequentemente aparece como intermediadora de pagamentos para essas apostas irregulares é a BH Trade Ltda., registrada em nome de Francisco (nome fictício), que afirmou não ter conhecimento da firma e suspeitou que a reportagem se tratava de um golpe. Ele, que também está ligado à AMC Park, uma empresa de estacionamentos, apresentou informações contraditórias sobre sua relação com a BH Trade.

Especialistas em Direito de Jogos e Apostas afirmam que a legislação é clara em determinar que somente as empresas que protocolaram pedidos até 17 de setembro podem operar legalmente. As que apresentaram solicitações após essa data estão proibidas de funcionar até a obtenção de autorização. O Ministério da Fazenda, por sua vez, está atento a fraudes e pode acionar o Ministério Público e a Polícia Federal para investigar os casos.

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