Governo de Javier Milei busca facilitar transações em dólares e expandir empréstimos na moeda americana
19 de Dezembro de 2024 às 20h37

Argentina acelera dolarização com lançamento de cartão de débito em dupla moeda

Governo de Javier Milei busca facilitar transações em dólares e expandir empréstimos na moeda americana

O governo da Argentina está em um intenso esforço para implementar sua estratégia de dolarização, liderada pelo presidente Javier Milei, em meio a uma crescente demanda por pesos. Para isso, o governo planeja lançar um cartão de débito que permitirá aos argentinos realizar pagamentos em dólares, mesmo com os controles cambiais ainda em vigor. Além disso, a proposta inclui a liberação de empréstimos em dólares para setores que atualmente não têm acesso a esse tipo de financiamento.

Essas iniciativas visam capitalizar o recente aumento no fluxo de dólares, resultado da anistia fiscal promovida pelo governo. Nos últimos cinco meses, mais de US$ 20 bilhões foram depositados em bancos locais, contribuindo para a valorização do peso em mais de 20% nos mercados paralelos, desde que atingiu uma baixa histórica em julho.

Com o peso estabilizado, o presidente Milei afirmou na semana passada que o uso do dólar nas transações cotidianas está prestes a se intensificar. “A partir de agora, todo argentino poderá comprar, vender e faturar em dólares, ou na moeda que considerar, exceto para o pagamento de impostos”, declarou durante um programa de televisão em 10 de dezembro.

As autoridades estão pressionando os principais processadores de pagamento do país a desenvolver um mecanismo que possibilite compras com o novo cartão de débito em dólares, conforme revelado por fontes que preferiram não se identificar. O ministro da Economia, Luis Caputo, expressou sua expectativa de que o cartão seja lançado em janeiro, embora as empresas acreditem que isso possa se estender até março.

O plano prevê que os consumidores possam utilizar os dólares depositados em suas contas sem a necessidade de passar pelo mercado de câmbio, ao contrário do sistema atual, que limita o uso a pesos. Além disso, o governo está incentivando os bancos a oferecerem empréstimos em dólares para mais setores. Caputo mencionou que deseja que empréstimos empresariais e hipotecas sejam disponibilizados na moeda americana, uma vez que as regulamentações atuais restringem o acesso a dólares apenas para empresas que geram receita em moeda estrangeira.

“Nosso objetivo é remonetizar a economia, tanto em pesos quanto em dólares”, afirmou Caputo em um discurso em setembro. “Queremos que as pessoas usem seus dólares, pois isso reativa a economia, gera mais renda e nos permite reduzir impostos”, acrescentou.

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Durante sua campanha, Milei prometeu fechar o Banco Central da Argentina e adotar o dólar como moeda oficial do país. No entanto, ao assumir o cargo, ele alterou sua estratégia, adotando uma abordagem chamada de dolarização endógena, que envolve restringir a oferta de pesos e forçar os argentinos a utilizarem suas reservas em dólares para despesas cotidianas.

Alguns estabelecimentos comerciais, como supermercados e bares, já começaram a aceitar pagamentos em dólares, mas as instituições financeiras ainda estão implementando a infraestrutura necessária para processar essas transações. Camila Gallelli, gerente de portfólio da Santander Asset Management, destacou que “as transações em dólares continuarão a crescer em 2025, e precisamos desenvolver novos produtos para atender à demanda”.

No setor de tecnologia financeira, a situação é desafiadora, pois requer a aprovação do Banco Central para a criação de uma chave virtual uniforme em dólares. As fintechs solicitaram a aprovação, mas o banco central deseja primeiro equilibrar a concorrência entre fintechs e bancos, conforme informado por um porta-voz.

“O desafio é oferecer mais transações em dólares. É uma demanda geral da indústria de fintech, mas atualmente não estamos tão próximos”, comentou Mariano Biocca, diretor executivo da câmara de fintechs da Argentina. Ele acredita que a aprovação do banco central pode ocorrer em meados de 2025, o que se tornaria um padrão na indústria.

Enquanto isso, tanto bancos quanto fintechs estão oferecendo opções para economizar em dólares, na tentativa de colocar em circulação os recursos provenientes da anistia fiscal. A fintech Ualá já recebeu aprovação da Comissão Nacional de Valores (CNV) para lançar um fundo em dólares que pagará um rendimento anual semelhante ao dos títulos do Tesouro dos EUA. A Santander Asset Management também lançou um fundo em dólares, prevendo um crescimento exponencial em seus ativos.

Apesar das iniciativas, analistas permanecem céticos quanto à eficácia das medidas para estabelecer as bases da estratégia de dolarização do governo. “A dolarização levará tempo e requer reformas estruturais adicionais para que a Argentina se torne um país normal novamente”, afirmou Alejo Czerwonko, diretor de investimentos do UBS Group AG para mercados emergentes das Américas. Ele acrescentou que maximizar o fluxo de dólares recebido pode ser útil, mas não é suficiente por si só.

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