Por que o avião que caiu em Gramado não tinha caixa-preta?
A tragédia que deixou 10 mortos levanta questões sobre a falta do equipamento em aeronaves de pequeno porte.
No último domingo (22), um trágico acidente aéreo em Gramado, na serra gaúcha, resultou na morte de dez pessoas, todas integrantes da mesma família. A aeronave, um modelo Piper PA-42-1000 Cheyenne 400, não possuía caixa-preta, conforme informado pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).
De acordo com a Força Aérea Brasileira (FAB), a ausência do equipamento se deve ao fato de que o modelo da aeronave não se enquadra nas exigências legais para a instalação de gravadores de dados de voo e de voz da cabine. O regulamento brasileiro determina que apenas aeronaves com mais de dez lugares, fabricadas após 1991 e equipadas com motores a turbina, são obrigadas a ter esse tipo de dispositivo.
A aeronave acidentada tinha apenas nove lugares, o que a isentava dessa obrigação. Com isso, as investigações sobre as causas do acidente terão que se basear em outras fontes de informação, uma vez que a caixa-preta, que poderia fornecer dados cruciais sobre os momentos que antecederam a queda, não estava presente.
O piloto da aeronave, Luiz Cláudio Galeazzi, que também era o proprietário do avião, estava acompanhado de sua esposa, três filhas, sogra, cunhados e duas crianças. O acidente ocorreu logo após a decolagem de Canela, com destino a Jundiaí, em São Paulo, quando a aeronave colidiu com imóveis na região, incluindo uma pousada e uma loja de móveis.
As autoridades locais, incluindo a Polícia Civil do Rio Grande do Sul, estão investigando o acidente. O delegado Gustavo Barcellos reiterou que a falta da caixa-preta não impede a investigação, mas pode dificultar a obtenção de informações precisas sobre o que ocorreu durante o voo. “A ausência do equipamento não impede que se chegue a um entendimento sobre as causas do acidente, mas certamente torna o processo mais complexo”, afirmou.
Além disso, o governador do estado, Eduardo Leite, destacou em coletiva de imprensa que as condições climáticas no momento da decolagem não eram ideais. A investigação deve considerar fatores como o histórico de manutenção da aeronave, o estado de saúde do piloto e as condições meteorológicas no momento do acidente.
O engenheiro Gerardo Portela, especialista em segurança da aviação, comentou que, embora a caixa-preta seja uma ferramenta valiosa para investigações, sua ausência não é um impeditivo. “Existem muitos outros elementos que podem ser analisados, como o histórico de voos e manutenções da aeronave, além das condições do tempo”, explicou.
As investigações continuam sob a responsabilidade do Quinto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA V), que está coletando dados e evidências para esclarecer as circunstâncias que levaram à queda do avião. O trabalho dos investigadores pode levar meses, dependendo da complexidade do caso.
Com a tragédia, a comunidade local e o país se mobilizam em luto pelas vítimas, enquanto as autoridades buscam respostas para evitar que incidentes semelhantes ocorram no futuro. A falta de uma caixa-preta em aeronaves de pequeno porte levanta um debate importante sobre a segurança na aviação civil e a necessidade de revisão das normas que regem a obrigatoriedade desse equipamento.
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