A gigante da tecnologia investe em empresas de inteligência artificial enquanto lida com investigações nos EUA, Europa e China.
04 de Janeiro de 2025 às 14h12

Nvidia destina US$ 1 bilhão a startups de IA e enfrenta desafios regulatórios globais

A gigante da tecnologia investe em empresas de inteligência artificial enquanto lida com investigações nos EUA, Europa e China.

A Nvidia anunciou um investimento de US$ 1 bilhão em startups de inteligência artificial (IA) para 2024, consolidando sua posição como uma das principais financiadoras do setor. Este montante é especialmente direcionado a empresas que desenvolvem soluções baseadas nos chips da companhia, que têm se tornado essenciais para o avanço da IA.

Em maio, a demanda crescente por unidades de processamento gráfico (GPUs) de alto desempenho fez com que a Nvidia superasse a Apple em valor de mercado, tornando-se a empresa mais valiosa do mundo. No fechamento do mercado em 5 de dezembro, as avaliações das duas empresas eram de aproximadamente US$ 3,432 trilhões e US$ 3,378 trilhões, respectivamente.

Com o crescimento do setor, era esperado que parte desse investimento retornasse aos clientes da Nvidia. A maior parte dos negócios foi realizada com instituições de “core AI”, que exigem infraestrutura computacional robusta para operar.

Conforme registros corporativos e pesquisas da Dealroom, a empresa liderada pelo CEO Jensen Huang alocou o capital em 50 rodadas de financiamento para startups e outros negócios corporativos ao longo de 2024. Esse valor representa um aumento significativo em relação a 2023, quando foram realizadas 39 rodadas com um total de US$ 872 milhões.

A Nvidia tem motivos para seu otimismo: a empresa acumulou US$ 9 bilhões em receita com suas GPUs, que se tornaram uma das commodities mais procuradas globalmente. O lançamento do ChatGPT, há dois anos, também impulsionou um aumento sem precedentes nos investimentos em IA.

Para que a inteligência artificial funcione de maneira eficaz, é necessário um grande volume de dados, que por sua vez requer uma infraestrutura de computação avançada para processar essas informações.

Recentemente, Mark Zuckerberg, fundador da Meta, declarou que o modelo de IA da empresa, conhecido como Llama, é treinado utilizando um conjunto de GPUs “maior do que qualquer outra coisa que já foi vista antes”. A Meta, que controla plataformas como Facebook e Instagram, é um dos principais clientes da Nvidia, mas não é a única.

As ações da Nvidia dispararam mais de 170% em 2024, simbolizando a ascensão da IA. Entretanto, gigantes como Microsoft, Amazon e Google estão desenvolvendo chips próprios para reduzir a dependência das GPUs da Nvidia, o que pode transformar startups menores em fontes de receita importantes para a empresa no futuro.

“Neste momento, a Nvidia busca mais competição, e faz sentido para eles ter novos players no mercado”, afirmou um gestor de fundos que investiu em várias empresas apoiadas pela gigante ao Financial Times.

Até agora, a Nvidia fechou mais negócios do que a Microsoft e a Amazon, embora o Google continue a ser o mais ativo no setor, segundo a Dealroom.

O mais recente investimento da Nvidia foi na xAI, de Elon Musk, em parceria com a fabricante de chips AMD. Outros investimentos significativos em 2024 incluem participações em rodadas de financiamento para a OpenAI, Cohere, Mistral e Perplexity.

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A Nvidia também opera uma incubadora de startups chamada Inception, que apoia o desenvolvimento inicial de empresas emergentes ao oferecer “preços preferenciais” em hardware e créditos em nuvem de parceiros.

No entanto, a intensa atividade da empresa gerou preocupações sobre seu controle na indústria de IA, especialmente em um momento de rigoroso escrutínio antitruste nos Estados Unidos, Europa e China.

O Departamento de Justiça dos EUA investiga desde agosto do ano passado queixas de concorrentes sobre práticas de mercado consideradas abusivas. Segundo o site The Information, a Nvidia detém cerca de 80% do mercado de chips de IA, o que levanta bandeiras vermelhas entre os reguladores.

Bill Kovacic, ex-presidente da Comissão Federal de Comércio dos EUA, destacou que os órgãos reguladores estão atentos a uma “empresa dominante fazendo grandes investimentos” para verificar se a aquisição de participações pode levar a uma “exclusividade” no mercado.

Na União Europeia (UE), a aquisição da Run:ai, uma plataforma israelense de gerenciamento de cargas de trabalho de IA, está sob análise do órgão regulador. O acordo foi aprovado após conferência do regulador antitruste da UE, que avaliou a transação. O Departamento de Justiça dos EUA também está avaliando o acordo, conforme Kovacic.

Na China, o regulador antitruste do país iniciou uma investigação sobre a Nvidia, com foco na possível violação dos compromissos assumidos durante a aquisição da rede Mellanox, aprovada em 2020 sob condições de evitar práticas anticompetitivas e garantir o fornecimento para a China. Essa medida surge após o governo Biden ter bloqueado a venda de chips e componentes de última geração para a China em dezembro de 2024.

A Nvidia nega veementemente a alegação de que vincula seus investimentos a qualquer exigência de uso de sua tecnologia. “Trabalhamos para expandir nosso ecossistema, apoiar grandes empresas e melhorar nossa plataforma para todos. Competimos e vencemos por mérito, independentemente de qualquer investimento que fazemos”, afirmou a empresa.

“Cada empresa deve ser livre para fazer escolhas tecnológicas independentes que atendam melhor às suas necessidades e estratégias”, completou.

Além disso, a Nvidia investe em diversas áreas, incluindo tecnologia médica, motores de busca, jogos, drones, chips, gestão de tráfego, logística, armazenamento, geração de dados, processamento de linguagem natural e até robôs humanoides.

O portfólio da Nvidia inclui várias startups que tiveram suas avaliações elevadas para bilhões de dólares. A CoreWeave, um provedor de serviços de computação em nuvem de IA, recebeu um aporte de US$ 100 milhões (R$ 618 milhões) da empresa em 2023 e está se preparando para abrir capital com uma avaliação de até US$ 35 bilhões (R$ 216 bilhões).

A Applied Digital, que enfrentou dificuldades financeiras em 2024, recebeu US$ 160 milhões (R$ 988 milhões) em capital de ações em setembro e conseguiu recuperar 65% de seu valor de mercado.

“A Nvidia está utilizando sua enorme capitalização de mercado e fluxo de caixa robusto para manter compradores ativos”, afirmou Nate Koppikar, vendedor da Orso Partners. “Se a Applied Digital tivesse falido, esse volume de vendas teria desaparecido com ela”, concluiu.

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