Nova legislação reclassifica áreas da Amazônia como Cerrado, reduzindo proteção ambiental.
11 de Janeiro de 2025 às 20h12

Mato Grosso aprova lei que pode permitir desmatamento de 5,5 milhões de hectares

Nova legislação reclassifica áreas da Amazônia como Cerrado, reduzindo proteção ambiental.

Na última quarta-feira, 8, a Assembleia Legislativa do Mato Grosso aprovou o Projeto de Lei Complementar (PLC) 18/2024, que pode resultar na derrubada de até 5,5 milhões de hectares de florestas, uma área equivalente ao tamanho da Croácia. A proposta foi criticada por ambientalistas e especialistas, que alertam para os riscos associados à reclassificação de áreas do bioma amazônico para o Cerrado.

Com a nova legislação, a reserva legal, que determina a porcentagem de vegetação nativa que deve ser preservada nas propriedades rurais, cairá de 80% para 35%. Essa mudança se dá porque o Código Florestal Brasileiro é mais permissivo em relação ao desmatamento em áreas classificadas como Cerrado. A flexibilização das normas de proteção ambiental distancia o Brasil da meta de zerar o desmatamento até 2030, estabelecida pelo Governo Federal.

O Observatório Socioambiental do Mato Grosso (Observa MT) emitiu uma nota de repúdio à proposta, destacando que o estado foi o segundo com maior emissão bruta de gases de efeito estufa em 2023, contribuindo com 11,4% das emissões totais do Brasil. O Pará lidera esse ranking, e as mudanças no uso do solo são apontadas como uma das principais causas dessa emissão.

Atualmente, cerca de 38% do território mato-grossense é ocupado por atividades agropecuárias, com destaque para pastagens e plantações de soja. O desmatamento tem se concentrado no Cerrado, que ainda abriga 54% de áreas com cobertura florestal, principalmente na região amazônica ao norte do estado.

“O avanço do desmatamento tanto na Amazônia quanto no Cerrado é uma ameaça ao clima global e à biodiversidade”, afirma a nota do Observa MT. A diretora-executiva do Instituto Centro de Vida (ICV), Alice Thuault, ressalta que a proposta atende a uma demanda do mercado internacional, que pressiona por mais áreas para cultivo.

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O PLC 18/2024 foi apresentado pelo deputado estadual Nininho (PSD), que possui um patrimônio declarado de mais de R$ 6 milhões, incluindo dez fazendas em Mato Grosso e Pará. A aprovação da lei é vista como um sinal de articulação entre as câmaras legislativas para o desmonte de políticas ambientais.

Marcondes Coelho, membro do Observa MT, afirma que a aprovação do PLC 18/2024 reflete uma estratégia coordenada de desmantelamento das políticas ambientais, com propostas semelhantes surgindo em outros estados, como Goiás, Rondônia e Pará. “Esses projetos desconsideram evidências científicas e ignoram os impactos ambientais e climáticos”, critica.

Em outubro de 2024, o governador Mauro Mendes sancionou a lei 12.709, que restringe benefícios fiscais a empresas que aderirem à Moratória da Soja no estado, um pacto firmado em 2006 que visa proteger áreas desmatadas após 2008 na Amazônia.

A decisão foi celebrada pela Associação dos Produtores de Soja e Milho do Mato Grosso (Aprosoja MT), que acredita que a medida beneficiará a economia do estado. No entanto, a Aprosoja Pará critica a moratória, considerando-a um embargo ao futuro do estado.

O debate em torno da nova legislação continua, com especialistas e ambientalistas alertando para as consequências que a reclassificação de áreas pode trazer para o meio ambiente e a biodiversidade local.

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