O NZZ denuncia 'abuso de poder' no judiciário do Brasil e menciona evento polêmico promovido por Gilmar Mendes.
15 de Janeiro de 2025 às 18h10

Crítica ao judiciário brasileiro e o 'Gilmarpalooza' em destaque em jornal suíço

O NZZ denuncia 'abuso de poder' no judiciário do Brasil e menciona evento polêmico promovido por Gilmar Mendes.

O Neue Zürcher Zeitung (NZZ), um dos mais respeitados jornais da Suíça, publicou uma matéria nesta quarta-feira (15) que critica o judiciário brasileiro, apontando um preocupante “abuso de poder” por parte de juízes e promotores. A reportagem destaca os privilégios e vantagens que a elite jurídica do país desfruta, o que levanta questões sobre a ética e a transparência do sistema judicial.

Entre os pontos abordados, o NZZ menciona o Fóram Jurídico de Lisboa, um evento promovido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, que ficou conhecido como “Gilmarpalooza”. O evento, que reúne autoridades, advogados e políticos, é alvo de críticas por sua associação com interesses privados e a falta de clareza sobre os custos envolvidos.

O texto do NZZ ilustra a situação com um exemplo hipotético: “Imagine o seguinte cenário na Suíça: uma vez por ano, um juiz de um tribunal federal convida-o para uma grande reunião jurídica num resort de luxo nas Caraíbas. Não apenas metade do tribunal e várias dezenas de advogados proeminentes são convidados, mas também políticos, conselheiros governamentais e altos funcionários”. Essa descrição visa evidenciar a imagem negativa que eventos desse tipo podem gerar sobre a independência judicial.

A reportagem também critica as condições de trabalho dos magistrados no Brasil, que incluem 60 dias de férias anuais e a possibilidade de “vender” parte dessas férias, além de remunerações que frequentemente ultrapassam o teto constitucional. Esses benefícios contrastam fortemente com a realidade da população brasileira, que enfrenta um sistema de justiça muitas vezes inacessível e lento.

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O NZZ argumenta que a operação Lava Jato, embora considerada um marco na justiça brasileira, revelou uma “maior resistência” entre a elite jurídica, que busca limitar a transparência e a responsabilidade. Essa resistência é vista como um reflexo de um sistema que protege seus próprios interesses em detrimento da justiça.

Além disso, o jornal suíço destaca a prática de nepotismo velado no judiciário brasileiro, onde familiares de juízes ocupam cargos estratégicos em escritórios de advocacia, criando um ambiente propício para conflitos de interesse. O caso do juiz Ricardo Lewandowski, que foi consultor jurídico de uma empresa envolvida em casos de corrupção, é citado como um exemplo dessa prática.

O STF, em resposta às críticas, afirmou que o evento “não gera custos para o tribunal”, mas a falta de clareza sobre os patrocinadores e as despesas envolvidas continua a gerar desconfiança. O ministro Luís Roberto Barroso, também do STF, defendeu a realização do evento, alegando que o tribunal dialoga com todos os setores da sociedade.

Essa situação levanta preocupações sobre a integridade do sistema judicial brasileiro e a necessidade de uma reforma que promova maior transparência e responsabilidade entre os magistrados. A crítica internacional ao judiciário do Brasil, especialmente em relação a eventos como o “Gilmarpalooza”, evidencia a urgência de um debate sobre a ética e os privilégios que permeiam a elite jurídica do país.

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