Grupo de 88 deportados foi transportado pela FAB após denúncias de maus-tratos durante voo.
26 de Janeiro de 2025 às 09h00

Brasileiros deportados dos EUA chegam a Belo Horizonte após viagem conturbada

Grupo de 88 deportados foi transportado pela FAB após denúncias de maus-tratos durante voo.

BELO HORIZONTE - Na noite deste sábado, 25, um grupo de 88 brasileiros deportados dos Estados Unidos desembarcou no Aeroporto Internacional de Confins, em Belo Horizonte. A viagem, que começou em solo americano, foi marcada por denúncias de maus-tratos e uso de algemas durante o trajeto. Os deportados chegaram a Manaus, onde uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) foi enviada para completar o trajeto até Minas Gerais.

Os relatos dos deportados são alarmantes. Vitor Gustavo da Silva, de 21 anos, ex-morador de Atlanta, na Geórgia, afirmou que durante o voo, os agentes americanos maltrataram os passageiros. “Eles bateram na gente algemado e não tínhamos cometido crime. Deixaram a gente algemado a viagem inteira. Tinha mulher e crianças. Estava muito calor”, disse Vitor.

Outro deportado, Luis Fernando Caetano Costa, relatou que alguns passageiros foram agredidos fisicamente. “Um agente deu um mata-leão em um dos meninos até ele desmaiar”, afirmou. Os problemas não se limitaram ao tratamento dos deportados. Denilson José de Oliveira, de 26 anos, que estava preso no Texas, contou que o avião enfrentou problemas técnicos e ficou parado por três horas em Manaus. “Perto de Manaus, todo mundo percebeu que o avião estava com problema. Todo mundo ficou muito nervoso”, relatou.

O governo brasileiro tomou conhecimento da situação dos deportados após a aeronave fazer uma parada em Manaus. A FAB foi acionada para transportar os brasileiros, e a ordem foi para que as algemas e correntes fossem removidas antes do embarque na aeronave militar. Das 158 pessoas que chegaram a Manaus, 88 eram brasileiras.

Oliveira destacou a dificuldade que tiveram para chamar a atenção das autoridades no aeroporto. “Com muito custo conseguimos chamar a atenção de alguém. Abrimos a porta da saída de emergência e pedimos ajuda, pedimos a Polícia Federal. Um rapaz que estava na pista viu. A gente falava: ‘Somos brasileiros, estamos acorrentados’”, contou.

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Sandra Lima, deportada da Flórida, resumiu a experiência como “um inferno”. Ela viajava com o marido e dois filhos e relatou que o avião estava com problemas e que o calor era insuportável. “Acreditei que pudesse ter o green card. Eles falam que, se você paga os impostos, que se você tem uma empresa, isso é possível”, disse Sandra, que não se considera um risco para os EUA.

O Itamaraty, por meio de uma postagem na rede social X, informou que solicitará explicações ao governo americano sobre as condições enfrentadas pelos deportados. O governo brasileiro considera a situação de receber cidadãos brasileiros algemados como um “flagrante desrespeito aos direitos fundamentais”.

Raissa Domingos, comerciante de Belo Horizonte, estava à espera do irmão, que foi detido ao cruzar a fronteira do México com os Estados Unidos. “Estou muito apreensiva para recebê-lo de volta”, disse Raissa. O vereador Pedro Rousseff (PT) também se manifestou sobre a situação, afirmando que uma viagem dos EUA ao Brasil com algemas não é correta e que é necessário identificar quais deportados terão suporte familiar.

Desde 2017, o Brasil tem recebido voos de deportados dos EUA, com o objetivo de reduzir o tempo que os brasileiros permanecem detidos por problemas de imigração. O governo brasileiro já havia solicitado que o uso de algemas fosse dispensado, especialmente em casos que envolvem núcleos familiares. O episódio atual ocorre em um contexto em que voos com brasileiros deportados têm sido frequentes, mesmo durante a gestão do democrata Joe Biden.

O uso de algemas durante o transporte de deportados é uma prática que vem sendo criticada pelo governo brasileiro. O Ministério da Justiça e Segurança Pública enfatiza que a dignidade da pessoa humana é um princípio fundamental da Constituição Federal e um dos pilares do Estado Democrático de Direito. A situação dos deportados e as condições em que foram transportados geraram repercussões negativas tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos.

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