Vídeos que evocam dor e tristeza conquistam milhões de visualizações e seguidores nas plataformas digitais
27 de Janeiro de 2025 às 15h22

O fascínio pelo conteúdo triste nas redes sociais e sua popularidade crescente

Vídeos que evocam dor e tristeza conquistam milhões de visualizações e seguidores nas plataformas digitais

Nos últimos anos, as redes sociais têm se tornado um espaço onde emoções intensas, como tristeza e dor, são amplamente exploradas por criadores de conteúdo. Seja para atrair seguidores, vender produtos ou disseminar informações, a capacidade de evocar sentimentos se tornou uma estratégia eficaz para engajar o público.

Embora as plataformas enfrentem críticas por promover conteúdos que despertam raiva, como o chamado ragebait, a tristeza também tem seu espaço. O fenômeno conhecido como sadbait, que se refere à isca da tristeza, vem ganhando destaque e atraindo a atenção de milhões de usuários.

Influenciadores têm utilizado essa abordagem, filmando a si mesmos em momentos de vulnerabilidade, como chorando, ou compartilhando histórias de superação e desgraça. Em 2024, um novo gênero de vídeos no TikTok, denominado Corecore, alcançou centenas de milhões de visualizações ao combinar recortes de notícias e filmes melancólicos com trilhas sonoras tristes.

Embora muitos possam pensar que não desejam se sentir tristes, a verdade é que postagens sombrias e perturbadoras têm se mostrado surpreendentemente eficazes em atrair a atenção tanto de usuários quanto de algoritmos que regem o conteúdo online.

A pesquisadora e jornalista investigativa Soma Basu, da Universidade de Tampere, na Finlândia, afirma que “imagens que mostram emoções fortes de qualquer tipo — raiva, tristeza, nojo ou até risos — cativam os espectadores”. Esse apelo emocional é crucial para capturar a atenção em um mar de conteúdos competindo por visualizações.

Além disso, Basu observa que imagens relacionadas ao luto podem criar uma conexão especial entre o público e o conteúdo, rompendo a barreira que normalmente separa os dois. O sadbait não precisa ser necessariamente triste; por exemplo, vídeos que apresentam gatos com expressões melancólicas, acompanhados de versões cover de músicas tristes, também têm se tornado populares nas redes sociais.

Pesquisadores têm notado que imagens geradas por inteligência artificial, como aquelas de veteranos de guerra feridos ou crianças em situações de vulnerabilidade, têm gerado grande engajamento, mesmo que não retratem realidades concretas. Isso levanta questões sobre a relação entre a autenticidade do conteúdo e a identificação emocional que ele provoca.

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Os algoritmos das redes sociais são projetados para maximizar o envolvimento dos usuários, promovendo postagens que geram mais comentários, visualizações e compartilhamentos. Assim, conteúdos que evocam emoções, especialmente os tristes, tendem a ser favorecidos, criando um ciclo contínuo de produção e promoção desse tipo de material.

O fenômeno do sadbait não se limita a expressões de tristeza. A pesquisadora Nina Lutz, da Universidade de Washington, sugere que esses conteúdos podem servir como um espaço para que as pessoas se conectem e compartilhem experiências. “Não acho que seja uma reação ao conteúdo em si, mas sim, o conteúdo serve de espaço para permitir o encontro de pessoas com interesses e experiências em comum”, explica Lutz.

Essas interações podem ser vistas em comentários de vídeos que mostram imagens geradas por IA, onde estranhos compartilham histórias pessoais de dor e superação, criando um ambiente de empatia e conexão.

O que se observa com o sadbait é uma dinâmica complexa entre a busca por conexão humana e a exploração de emoções em um espaço digital, onde a tristeza, muitas vezes considerada um tabu, encontra um lugar para ser expressa e discutida.

Os vídeos de choro, um fenômeno que ganhou popularidade nas redes sociais indianas, exemplificam essa busca por conexão. Influenciadores que sincronizam labialmente ao som de músicas ou diálogos emocionais têm atraído a atenção por desafiar normas sociais e permitir que os espectadores tenham acesso a momentos de vulnerabilidade que normalmente ocorrem em privado.

Essa intimidade digital pode parecer uma forma de voyeurismo, mas também expõe e comenta sobre questões sociais mais amplas, como as divisões de classe e etnia. A transgressão de exibir emoções em momentos inesperados pode ser uma forma poderosa de conectar diferentes grupos sociais.

Por fim, o conteúdo triste nas redes sociais não apenas proporciona um espaço para a expressão emocional, mas também reflete uma dinâmica de consumo que é, ao mesmo tempo, irônica e sincera. Os usuários reconhecem a manipulação dos algoritmos, mas continuam a se envolver com esse tipo de conteúdo, demonstrando que, em última análise, as pessoas buscam ver e sentir aquilo que ressoa com suas experiências humanas.

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