Cientistas chineses criam primeiro rato com dois pais machos que chega à idade adulta
Um estudo inovador revela que um rato bipaternal sobreviveu até a fase adulta, usando engenharia genética.
Cientistas da Academia Chinesa de Ciências conseguiram criar o primeiro rato com dois pais machos que alcançou a idade adulta, uma conquista que pode ter implicações significativas na reprodução e na medicina regenerativa. O estudo, publicado na revista Cell Stem Cell, representa um avanço notável na engenharia genética de mamíferos.
O experimento envolveu técnicas de manipulação de células-tronco embrionárias, permitindo que os pesquisadores utilizassem apenas material genético de dois machos para gerar um rato saudável. Isso foi possível através da engenharia de células-tronco, que transformou esperma de um dos pais em óvulos, possibilitando a fertilização por outro macho.
Antes deste estudo, tentativas anteriores de criar ratos bipaternais falharam, resultando em embriões que não se desenvolviam ou apresentavam graves defeitos de desenvolvimento. Os cientistas, liderados por Zhi-kun Li, Wei Li e Qi Zhou, focaram na modificação de 20 genes de impressão, que são essenciais para a reprodução saudável em mamíferos.
Os pesquisadores injetaram esperma em óvulos enucleados, ou seja, sem material genético, para criar células-tronco haploides. Essas células foram então editadas geneticamente para corrigir anomalias que impediam o desenvolvimento adequado dos embriões. O resultado foi a criação de um embrião que continha DNA de ambos os pais machos, que foi implantado em uma mãe de aluguel.
“As características únicas dos genes de impressão levaram os cientistas a acreditar que eles são uma barreira fundamental para a reprodução unissexual em mamíferos”, explicou Qi Zhou. Com as modificações, os ratos bipaternais conseguiram sobreviver até a idade adulta, embora com algumas anormalidades de desenvolvimento.
De 1.081 embriões criados, apenas 12% sobreviveram até o nascimento, e muitos dos que atingiram a fase adulta apresentaram crescimento alterado e expectativa de vida reduzida. Além disso, todos eram estéreis, o que significa que não podiam se reproduzir naturalmente.
Os cientistas acreditam que esta pesquisa pode abrir novas possibilidades para a reprodução assistida, especialmente para casais homossexuais masculinos que desejam ter filhos biológicos. Se aperfeiçoadas, essas técnicas poderiam permitir que homens gays se tornassem pais biológicos de seus filhos, utilizando esperma de um parceiro e células-tronco do outro para criar óvulos.
Embora os resultados sejam promissores, os pesquisadores alertam que a técnica ainda enfrenta limitações significativas e que não há planos para aplicá-la em humanos no momento. A ética da edição genética em humanos continua a ser um tema delicado, com diretrizes internacionais que proíbem a manipulação genética hereditariedade para fins reprodutivos.
O estudo também destaca um precedente interessante: em março de 2023, um pesquisador japonês conseguiu gerar ratos apenas com contribuição paterna, utilizando células-tronco masculinas. Essa descoberta, juntamente com a pesquisa chinesa, pode indicar um futuro onde a reprodução unissexual em mamíferos se torne uma realidade.
Os cientistas da Academia Chinesa de Ciências planejam expandir suas pesquisas para animais maiores, como macacos, mas reconhecem que isso exigirá tempo e esforço devido às diferenças genéticas significativas entre as espécies. A busca por soluções que possam beneficiar a medicina regenerativa e a conservação de espécies ameaçadas de extinção continua a ser um objetivo importante para a comunidade científica.
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