Dados alarmantes revelam 97 mil registros de ameaças até novembro; feminicídios aumentam 15% no mesmo período.
30 de Janeiro de 2025 às 21h03

Ameaças contra mulheres em São Paulo ocorrem a cada cinco minutos em 2024

Dados alarmantes revelam 97 mil registros de ameaças até novembro; feminicídios aumentam 15% no mesmo período.

Em 2024, o estado de São Paulo registrou uma ameaça contra mulheres a cada cinco minutos, conforme dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP). Entre janeiro e novembro, foram contabilizados 97.434 boletins de ocorrência por ameaças, evidenciando a gravidade da situação. Os números de dezembro ainda não foram divulgados.

Comparando com o mesmo período de 2023, que teve 97.920 registros de ameaças, a situação permanece alarmante. No total, em 2023, foram 114.083 boletins registrados ao longo do ano.

Esses dados não apenas refletem a seriedade da violência contra a mulher, mas também servem como um alerta para as autoridades de segurança pública e do sistema de justiça. A advogada Ianca Santos, especialista em direitos da mulher e integrante do Projeto Justiceiras, enfatiza que “é lamentável que ainda tenhamos um número assustador como esse. Sabemos que existem muitas mulheres que não denunciam. Então, o número é ainda maior do que isso”.

Segundo Ianca, o crime de ameaça é um dos mais comuns no contexto da violência contra a mulher. “O crime de ameaça é uma forma que o agressor utiliza para intimidar a mulher, fazendo-a sentir medo, seja em relação aos filhos, ao trabalho ou a questões financeiras”, explica. Ela acrescenta que os agressores costumam explorar os pontos fracos das vítimas para minar sua autoestima e deixá-las com medo.

A advogada alerta que muitas mulheres continuam a sofrer em silêncio, temendo as consequências de denunciar, o que pode levar à concretização das ameaças. “Para reduzir os crimes contra as mulheres, são necessárias ações de prevenção, conscientização e educação da população”, afirma.

Ianca Santos destaca a importância da colaboração de órgãos públicos, escolas e empresas na disseminação de conhecimento para toda a sociedade. Ela menciona que, em dias de jogos de futebol, há um aumento significativo na violência contra mulheres, pois alguns homens descontam a frustração com o resultado em suas companheiras, resultando em gritos, ameaças e, em alguns casos, agressões físicas.

- CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE -

“Precisamos acabar com a visão estrutural que ainda prevalece, tratando a mulher como propriedade do homem. Isso se reflete nos casos de ameaça, pois deixa as mulheres com medo e muitas vezes paralisadas, sem procurar ajuda. Portanto, o investimento em conhecimento e educação é de suma importância”, enfatiza a advogada.

Ianca Santos também ressalta a importância de denunciar casos de ameaça como uma forma de interromper o ciclo de violência. “Sabemos que não é fácil denunciar alguém próximo, como um parceiro, mas essa denúncia é crucial para evitar que a situação escale para um crime mais grave, como o feminicídio”, alerta.

Os dados indicam que os casos de feminicídio aumentaram 15,89% de 2023 para 2024, com 226 boletins registrados até novembro deste ano, em comparação com 195 no mesmo período do ano anterior. Mesmo sem os dados de dezembro, os feminicídios em 2024 já superaram o total de 2023.

Para registrar uma ameaça, as mulheres devem se dirigir à delegacia mais próxima e, preferencialmente, às delegacias de defesa da mulher. Ianca recomenda que as vítimas reúnam provas e indiquem testemunhas, sejam diretas ou indiretas, para fortalecer o boletim de ocorrência.

“Nos crimes de violência contra a mulher, que geralmente ocorrem em ambientes privados, não há testemunhas diretas. No entanto, uma testemunha indireta, como uma amiga a quem a mulher relatou a agressão, pode ser crucial”, explica a advogada.

Além de conscientizar as mulheres sobre a importância de registrar denúncias, Ianca enfatiza a necessidade de investigações rigorosas para evitar que ameaças se transformem em feminicídios. “Ainda enfrentamos uma questão de contingente para averiguar essas demandas. É necessário um maior investimento nas delegacias de defesa da mulher para garantir um atendimento mais ágil e eficaz, com um maior deferimento de medidas protetivas, sempre visando a segurança das mulheres”, conclui.

Veja também:

Tópicos: