Após polêmica por mudança de letra, cantora é alvo de ação do Ministério Público na Bahia; ela não se pronunciou.
31 de Janeiro de 2025 às 22h14

Instituto de defesa das religiões afro pede que Cláudia Leitte não se apresente na Bahia

Após polêmica por mudança de letra, cantora é alvo de ação do Ministério Público na Bahia; ela não se pronunciou.

O Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro-Brasileiras (Idafro) e a iyalorixá Jaciara Ribeiro solicitaram ao Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA) que emita uma recomendação para que o governo estadual e a prefeitura de Salvador não contratem a cantora Cláudia Leitte para apresentações artísticas. A ação ocorre em meio a uma polêmica gerada pela alteração da letra da música Caranguejo, onde a artista substituiu a menção à deusa Yemanjá pelo nome Yeshuá, que é considerado por algumas tradições cristãs como o nome original de Jesus.

Até o fechamento desta matéria, a assessoria de imprensa de Cláudia Leitte não havia respondido às solicitações de comentários. O espaço permanece aberto para qualquer manifestação da cantora.

A mudança na letra da música gerou reações negativas, com o Idafro e Jaciara Ribeiro argumentando que a alteração descontextualiza a canção e demonstra desprezo pelas religiões afro-brasileiras, configurando um ato de discriminação. Eles enfatizam que a Festa de Yemanjá e a figura do orixá são patrimônios culturais protegidos por lei, e que a atitude da cantora pode ser vista como um ataque a esses bens culturais.

O MPBA acatou o pedido do Idafro e da iyalorixá, instaurando um inquérito civil para investigar a possível responsabilidade de Cláudia Leitte por danos morais à honra e dignidade das religiões de matriz africana.

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Na nova argumentação, o Instituto e a iyalorixá invocam a Convenção Interamericana Contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de Intolerância, assinada pelo Brasil em 2013 e promulgada em 2022. Os países signatários se comprometem a prevenir, eliminar, proibir e punir atos de racismo e discriminação.

Hédio da Silva Jr., advogado do Idafro, reforçou a posição do Instituto, afirmando que “a Convenção é expressa: a União, estados e municípios não podem contratar atividades que promovam a intolerância”. Ele acrescentou que a troca do nome de Yemanjá por Yeshuá representa intolerância religiosa, uma vez que a cantora já havia declarado ter mudado de religião.

No final de dezembro, Cláudia Leitte comentou sobre a polêmica durante uma coletiva de imprensa no Festival Virada Salvador. A cantora afirmou que o tema do racismo é “muito sério” e que é fundamental discutir a questão com profundidade, sem superficialidades. “Eu prezo muito pelo respeito, pela solidariedade, pela integridade. Não podemos negociar esses valores”, disse.

Na última segunda-feira, 27, o MPBA promoveu uma audiência pública para discutir o caso, com o objetivo de subsidiar a atuação do Ministério Público no inquérito civil em andamento. Durante a reunião, foi proposta a criação de um pacto inter-religioso que envolva representantes de diversas crenças, incluindo religiões cristãs, de matriz africana, islâmicas e budistas, visando o combate ao racismo e à intolerância religiosa.

A promotora de Justiça Lívia Vaz, responsável pela condução do inquérito, destacou a importância da união de todas as religiões que compartilham o ideal democrático na luta contra o racismo e a intolerância religiosa em Salvador.

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