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Instituto de defesa das religiões afro pede que Cláudia Leitte não se apresente na Bahia
Após polêmica por mudança de letra, cantora é alvo de ação do Ministério Público na Bahia; ela não se pronunciou.
O Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro-Brasileiras (Idafro) e a iyalorixá Jaciara Ribeiro solicitaram ao Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA) que emita uma recomendação para que o governo estadual e a prefeitura de Salvador não contratem a cantora Cláudia Leitte para apresentações artísticas. A ação ocorre em meio a uma polêmica gerada pela alteração da letra da música Caranguejo, onde a artista substituiu a menção à deusa Yemanjá pelo nome Yeshuá, que é considerado por algumas tradições cristãs como o nome original de Jesus.
Até o fechamento desta matéria, a assessoria de imprensa de Cláudia Leitte não havia respondido às solicitações de comentários. O espaço permanece aberto para qualquer manifestação da cantora.
A mudança na letra da música gerou reações negativas, com o Idafro e Jaciara Ribeiro argumentando que a alteração descontextualiza a canção e demonstra desprezo pelas religiões afro-brasileiras, configurando um ato de discriminação. Eles enfatizam que a Festa de Yemanjá e a figura do orixá são patrimônios culturais protegidos por lei, e que a atitude da cantora pode ser vista como um ataque a esses bens culturais.
O MPBA acatou o pedido do Idafro e da iyalorixá, instaurando um inquérito civil para investigar a possível responsabilidade de Cláudia Leitte por danos morais à honra e dignidade das religiões de matriz africana.
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Na nova argumentação, o Instituto e a iyalorixá invocam a Convenção Interamericana Contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de Intolerância, assinada pelo Brasil em 2013 e promulgada em 2022. Os países signatários se comprometem a prevenir, eliminar, proibir e punir atos de racismo e discriminação.
Hédio da Silva Jr., advogado do Idafro, reforçou a posição do Instituto, afirmando que “a Convenção é expressa: a União, estados e municípios não podem contratar atividades que promovam a intolerância”. Ele acrescentou que a troca do nome de Yemanjá por Yeshuá representa intolerância religiosa, uma vez que a cantora já havia declarado ter mudado de religião.
No final de dezembro, Cláudia Leitte comentou sobre a polêmica durante uma coletiva de imprensa no Festival Virada Salvador. A cantora afirmou que o tema do racismo é “muito sério” e que é fundamental discutir a questão com profundidade, sem superficialidades. “Eu prezo muito pelo respeito, pela solidariedade, pela integridade. Não podemos negociar esses valores”, disse.
Na última segunda-feira, 27, o MPBA promoveu uma audiência pública para discutir o caso, com o objetivo de subsidiar a atuação do Ministério Público no inquérito civil em andamento. Durante a reunião, foi proposta a criação de um pacto inter-religioso que envolva representantes de diversas crenças, incluindo religiões cristãs, de matriz africana, islâmicas e budistas, visando o combate ao racismo e à intolerância religiosa.
A promotora de Justiça Lívia Vaz, responsável pela condução do inquérito, destacou a importância da união de todas as religiões que compartilham o ideal democrático na luta contra o racismo e a intolerância religiosa em Salvador.
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