Pesquisa aponta que altas temperaturas elevam riscos para idosos e portadores de doenças crônicas na capital fluminense.
15 de Fevereiro de 2025 às 13h27

Estudo da Fiocruz revela aumento da mortalidade por calor extremo no Rio de Janeiro

Pesquisa aponta que altas temperaturas elevam riscos para idosos e portadores de doenças crônicas na capital fluminense.

Um estudo realizado pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) revelou que as altas temperaturas no Rio de Janeiro estão diretamente ligadas ao aumento da mortalidade na cidade. A pesquisa destaca que o calor extremo representa um risco maior para grupos vulneráveis, como idosos e pessoas com condições de saúde como diabetes, hipertensão, Alzheimer, insuficiência renal e infecções do trato urinário.

Os dados foram analisados com base na classificação de Níveis de Calor (NC) estabelecida pela Prefeitura do Rio de Janeiro, que varia de 1 a 5, indicando os riscos e as ações necessárias em cada nível. O estudo observou que o registro de Nível de Calor 4, que ocorre quando a temperatura ultrapassa 40°C por quatro horas ou mais, está associado a um aumento de 50% na mortalidade por doenças crônicas entre os idosos.

João Henrique de Araújo Morais, autor do estudo, explica que “em Nível 5, que se refere a duas horas com Índice de Calor igual ou acima de 44°C, esse aumento é observado e se agrava conforme o número de horas aumenta. Portanto, o estudo confirma que, nesses níveis extremos definidos no protocolo, o risco à saúde é real”.

Os resultados da pesquisa também alertam para as consequências da emergência climática e a necessidade urgente de que as cidades desenvolvam planos de adaptação ao calor. “Populações específicas estão em alto risco, como trabalhadores expostos diretamente ao sol, pessoas em situação de rua, grupos vulneráveis como crianças e idosos, além de moradores de áreas conhecidas como Ilhas de Calor Urbano”, acrescenta Morais.

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O estudo sugere que as ações previstas no Protocolo de Calor do Município do Rio, que incluem a criação de pontos de hidratação e resfriamento, adaptação das atividades laborais, comunicação contínua com a população e a suspensão de atividades de risco em níveis críticos, sejam amplamente divulgadas e implementadas em outras cidades para proteger a saúde da população, especialmente dos mais vulneráveis.

Uma inovação trazida pela pesquisa é a criação de uma métrica para avaliar a exposição ao calor e os riscos associados à Área de Exposição ao Calor (AEC). Essa métrica considera o tempo que uma pessoa permanece exposta ao calor, algo que outras medidas, como temperatura média ou sensação térmica, não levam em conta.

O estudo revela que o tempo de exposição ao calor intenso está fortemente relacionado à mortalidade, especialmente entre os grupos mais vulneráveis. Para os idosos, por exemplo, a exposição a uma AEC de 64ºCh (graus-hora) aumenta em 50% o risco de morte por causas naturais, enquanto uma AEC de 91,2ºCh dobra esse risco.

Para exemplificar a eficácia da AEC, o estudo compara duas datas: em 12 de janeiro de 2020, o índice de calor foi de 32,69ºC, enquanto em 7 de outubro de 2023, o índice foi de 32,51ºC. Apesar de os números serem quase idênticos, o calor durou mais tempo no segundo dia, resultando em uma AEC de 55,3ºCh, em comparação com apenas 2,7ºCh no primeiro dia, o que representa uma diferença significativa.

“Ao considerar apenas medidas-resumo, como médias ou máximas, podemos subestimar dias anormalmente quentes. A métrica, por sua vez, consegue identificar isso e pode ser utilizada para a definição de protocolos semelhantes ao desenvolvido aqui no Rio”, conclui o autor da pesquisa.

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