Investigação revela que projéteis que mataram Vinícius Gritzbach pertencem ao mesmo lote de munições usadas em assalto a bancos.
16 de Fevereiro de 2025 às 08h33

Munição usada na execução de delator do PCC é de lote de mega-assalto em SP

Investigação revela que projéteis que mataram Vinícius Gritzbach pertencem ao mesmo lote de munições usadas em assalto a bancos.

Uma investigação revelou que parte da munição utilizada na execução do delator do Primeiro Comando da Capital (PCC), Vinícius Gritzbach, pertence ao mesmo lote de projéteis disparados durante um mega-assalto a três agências bancárias em Botucatu, interior de São Paulo, em 2020. Os laudos que comprovam essa conexão foram analisados pelo Instituto Sou da Paz e fazem parte dos inquéritos que apuram as ligações entre a polícia paulista e a facção criminosa.

A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) afirmou que as polícias do estado mantêm rigorosos controles sobre a distribuição de munições e que qualquer suspeita de extravio é investigada de forma minuciosa. Em casos de irregularidades, medidas disciplinares e judiciais são aplicadas. No caso específico de Botucatu, a SSP informou que os criminosos utilizaram munições desviadas de diversas instituições de segurança.

Vinícius Gritzbach, que denunciou desvios de dinheiro do PCC e alegou estar sob ameaça de morte, foi assassinado ao desembarcar no Aeroporto de Guarulhos, em 8 de novembro do ano passado, sendo atingido por quatro disparos. Ele estava sob escolta privada, realizada por policiais militares.

De acordo com o Instituto Sou da Paz, os três lotes de munições de fuzis envolvidos tanto no assassinato de Gritzbach quanto no assalto a bancos foram adquiridos pela Polícia Militar de São Paulo entre 2013 e 2018. Carolina Ricardo, diretora-executiva da organização, destacou que a análise dos laudos revelou uma sequência numérica que liga as munições encontradas em ambas as ocorrências.

“Identificamos que as munições utilizadas no assassinato de Gritzbach e no assalto a Botucatu pertencem ao mesmo lote adquirido pela PM de São Paulo”, afirmou Carolina. O Sou da Paz é uma organização social que atua na prevenção da violência e promoção da segurança pública em todo o Brasil.

Carolina também ressaltou que a presença de policiais civis e militares em atividades criminosas é alarmante. “No caso de Vinícius, temos indícios de que policiais da ativa estão envolvidos, o que demonstra uma preocupação significativa sobre a relação entre a polícia e o crime organizado”, disse.

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Além disso, a diretora mencionou que não se trata de casos isolados. “As ocorrências têm quase cinco anos de diferença e aconteceram em diferentes locais do estado, o que levanta a suspeita de que esse lote de munições possa ter sido redistribuído”, completou.

Os documentos das corporações incluídos nos inquéritos indicam que quase 50 lotes de munições diferentes foram utilizados no ataque em Botucatu, que resultou em disparos contra batalhões da PM e viaturas da Guarda Municipal. Foram empregadas munições de 13 lotes da PM, além de munições do Exército, Aeronáutica, Polícia Rodoviária Federal e Polícia Federal.

A especialista considera a situação uma demonstração grave da falta de segurança no controle das armas das polícias. “A marcação das munições é crucial para investigações. O Estatuto do Desarmamento exige que as munições institucionais sejam marcadas em lotes de até 10 mil peças, mas quanto maior o lote, mais difícil é rastrear sua origem”, explicou.

O ataque a três agências bancárias em Botucatu, ocorrido em julho de 2020, foi realizado por uma quadrilha composta por 40 integrantes e provocou cenas de terror na cidade. Explosões, reféns e intenso tiroteio marcaram a ação, que resultou na destruição de uma das agências.

Em um dos carros abandonados pelos criminosos, a polícia encontrou fuzis, munições e dinheiro. Durante a fuga, dois policiais ficaram feridos e um dos suspeitos foi baleado. As investigações indicaram que os assaltantes tinham ligações com o PCC e apontaram conexões com outros assaltos na região.

Atualmente, as investigações sobre o homicídio de Gritzbach, ocorrido no Aeroporto de Guarulhos, seguem em sigilo. A SSP informou que até o momento, 28 suspeitos foram presos e mais detalhes sobre o caso não serão divulgados para não comprometer a apuração.

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