
Mudanças no Farmácia Popular: gratuidade gera preocupações entre comerciantes e consumidores
Governo federal amplia gratuidade no programa Farmácia Popular, mas comerciantes alertam para riscos financeiros.
O Ministério da Saúde anunciou em fevereiro de 2025 uma significativa mudança no Programa Farmácia Popular, que agora oferece 41 medicamentos gratuitamente nas farmácias credenciadas. A alteração extinguiu o modelo anterior, que previa copagamento, onde o governo subsidiava até 90% do custo dos medicamentos, e o cidadão arcava com o restante.
A nova estrutura, que garante a gratuidade total, gerou reações mistas entre a população e os comerciantes. Um vídeo que circula nas redes sociais, protagonizado por uma farmacêutica de Bebedouro, no interior de São Paulo, destaca as preocupações de proprietários de farmácias sobre os impactos financeiros da mudança. Ela afirma que o valor repassado pelo governo é insuficiente para cobrir os custos dos medicamentos, levando alguns estabelecimentos a descontinuar a venda de produtos como o propranolol e a espironolactona.
O vídeo, publicado um dia após o anúncio do governo, expõe a frustração de comerciantes que se sentem pressionados pela nova política. A farmacêutica menciona que, por exemplo, o medicamento forxiga, que custa R$ 200, tinha um repasse de R$ 80 do governo, deixando o cliente responsável por R$ 120. “Como posso repassar isso gratuitamente?”, questiona ela, enfatizando a dificuldade de manter a operação com os novos valores.
Recentemente, o Ministério da Saúde ajustou os valores de referência para os medicamentos do programa, aumentando o repasse para o forxiga para R$ 3,95 por comprimido, totalizando R$ 118,50 por caixa de 30 comprimidos. No entanto, o custo de aquisição para as farmácias ainda é superior, com muitos estabelecimentos pagando até R$ 160 ao fabricante.


Hebert Freire, professor do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos de São Paulo (Sincofarma-SP), explica que a eliminação do copagamento elimina a margem de lucro que os comerciantes tinham anteriormente. “As farmácias agora precisam operar apenas com o que o governo paga, o que pode inviabilizar muitos pequenos negócios”, alerta Freire.
Além disso, a nova política pode afetar de maneira desproporcional as farmácias menores, que não têm o mesmo poder de negociação que as grandes redes. Enquanto as grandes conseguem condições melhores com os fornecedores, as pequenas enfrentam dificuldades para obter preços competitivos.
O governo, por sua vez, garante que a mudança visa facilitar o acesso à saúde e medicamentos para a população, sem ônus para as farmácias. Entretanto, a Associação Brasileira de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) expressou preocupações em nota, afirmando que o programa pode se tornar insustentável para muitos estabelecimentos devido às recentes mudanças.
O Programa Farmácia Popular foi criado em 2006 como uma iniciativa para complementar a oferta de medicamentos na Atenção Primária à Saúde. Com a nova estrutura, o governo espera aumentar o acesso a medicamentos essenciais, mas os desafios financeiros para as farmácias credenciadas permanecem uma questão crítica.
Os comerciantes e especialistas do setor aguardam mais esclarecimentos e possíveis ajustes nas políticas para garantir a viabilidade econômica das farmácias, enquanto a população se beneficia da gratuidade dos medicamentos.
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