Decisão do TJ-RS gera revolta entre familiares das vítimas do incêndio que deixou 242 mortos em Santa Maria, em 2013.
06 de Setembro de 2025 às 19h02

Condenados pela tragédia da Boate Kiss conquistam progressão ao semiaberto

Decisão do TJ-RS gera revolta entre familiares das vítimas do incêndio que deixou 242 mortos em Santa Maria, em 2013.

O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) autorizou a progressão para o regime semiaberto de três dos quatro condenados pelo incêndio da Boate Kiss, ocorrido em 2013, que resultou na morte de 242 pessoas e deixou 636 feridos em Santa Maria, no interior gaúcho. A decisão foi proferida nesta sexta-feira, 6 de setembro, após readequações nas penas dos réus.

Os condenados beneficiados são Elissandro Callegaro Spohr, sócio da boate; Marcelo de Jesus dos Santos, vocalista da banda Gurizada Fandangueira; e Luciano Bonilha Leão, produtor do grupo musical. O quarto réu, Mauro Londero Hoffmann, aguarda a manifestação do Ministério Público sobre seu pedido de progressão.

A decisão foi tomada pelos juízes Geraldo Anastácio Brandeburski Júnior e Bárbara Mendes Sant’Anna, responsáveis pelos processos de execução. A progressão foi possível após a 1ª Câmara Especial Criminal do TJ-RS ter reduzido as penas dos réus em 26 de agosto, mantendo, porém, suas condenações.

Elissandro Spohr, que inicialmente foi condenado a 22 anos e 6 meses de reclusão, teve sua pena recalculada para 12 anos. Ele já cumpriu 3 anos e 8 meses em regime fechado, o que o qualifica para solicitar a progressão ao semiaberto a partir de janeiro de 2024. O juiz considerou que Spohr demonstrou capacidade de reintegração ao convívio social por meio de atividades laborais e educacionais durante o cumprimento da pena.

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Marcelo de Jesus dos Santos, que teve sua pena reduzida de 18 para 11 anos, pode solicitar a progressão ao semiaberto em novembro de 2024. O vocalista é considerado responsável pelo show pirotécnico que deu início ao incêndio. Luciano Bonilha Leão também teve sua pena recalculada para 11 anos e poderá progredir para o semiaberto em dezembro de 2024.

A decisão do TJ-RS gerou forte reação entre os familiares das vítimas. A Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) expressou sua indignação por meio de uma publicação nas redes sociais, onde criticou o tribunal, referindo-se a ele como “o carrasco das vítimas da Kiss”. A entidade também instalou um banner em homenagem às vítimas no local onde a boate estava situada.

O incêndio na Boate Kiss ocorreu em 27 de janeiro de 2013, durante uma apresentação da banda Gurizada Fandangueira. Um artefato pirotécnico utilizado na apresentação atingiu o teto revestido de espuma, provocando um incêndio que liberou gases tóxicos, resultando em tragédia. Na ocasião, muitos frequentadores, ao tentarem escapar, acabaram se dirigindo a banheiros, acreditando serem rotas de fuga, mas ficaram presos e morreram.

A Justiça do Rio Grande do Sul já havia anulado o julgamento anterior, realizado em 2021, apontando irregularidades na escolha dos jurados e na condução do processo. Em setembro de 2024, o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), acolheu os pedidos do Ministério Público e restabeleceu a validade do júri, que havia sido anulado.

Os familiares das vítimas continuam a lutar por justiça e expressam sua insatisfação com as decisões que favorecem os condenados, considerando-as desrespeitosas em relação à memória dos que perderam a vida na tragédia. A luta por justiça e a busca por respostas sobre o que ocorreu naquela noite fatídica ainda permanecem vivas entre os sobreviventes e os familiares das vítimas.

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