Ministro do STF justifica mudança de postura ao absolver cinco réus, incluindo Jair Bolsonaro, após condenar centenas de envolvidos.
22 de Outubro de 2025 às 10h52

Luiz Fux afirma que STF cometeu injustiças em julgamentos do 8 de janeiro

Ministro do STF justifica mudança de postura ao absolver cinco réus, incluindo Jair Bolsonaro, após condenar centenas de envolvidos.

O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), declarou nesta terça-feira, 21, que a Corte cometeu erros em seus julgamentos relacionados aos atos extremistas de 8 de janeiro de 2023. A afirmação foi feita durante o julgamento do núcleo 4 da trama golpista, conhecido como "núcleo da desinformação".

No início de seu voto, Fux justificou sua mudança de postura, que o levou a absolver cinco réus, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), após ter condenado centenas de pessoas presentes nos atos em Brasília. “Meu entendimento anterior, embora amparado pela lógica da urgência, incorreu em injustiças que o tempo e a consciência já não me permitiam sustentar”, afirmou o ministro.

Os réus absolvidos incluem o ex-major do Exército Ailton Barros, o major da reserva Ângelo Denicoli, o subtenente Giancarlo Rodrigues, o tenente-coronel Guilherme Marques Almeida, o policial federal Marcelo Bormevet, o coronel Reginaldo Vieira de Abreu e o engenheiro Carlos Rocha, presidente do Instituto Voto Legal (IVL).

Fux enfatizou que “não é a imobilidade que sustenta a autoridade moral” dos juízes, mas sim “a capacidade de reparar erros e reconciliar a sociedade”. Ele destacou que não há demérito maior para um juiz do que pactuar com o próprio equívoco, ressaltando que o magistrado não deve buscar a coerência no erro.

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Em setembro, Fux foi o único ministro da Primeira Turma a votar pela absolvição de cinco réus, defendendo a condenação apenas do general Braga Netto, ex-ministro da Defesa, e do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Essa mudança de postura representa uma reviravolta em seu entendimento, já que anteriormente ele havia concordado com o voto do relator, Alexandre de Moraes, pela condenação dos réus.

Ao analisar o caso de Bolsonaro, Fux argumentou que culpá-lo por um golpe de Estado abriria um precedente perigoso para a responsabilização de políticos. Ele afastou a relação do ex-presidente com os atos antidemocráticos de 8 de janeiro, afirmando que “não se pode aceitar a pretensão acusatória de se imputar ao réu a responsabilidade por crimes cometidos por terceiros no fatídico 8 de janeiro de 2023 como decorrência de discursos e entrevistas ao longo do mandato”.

Fux também criticou a possibilidade de ministros que não participaram de determinado julgamento comentarem o resultado fora dos autos. Essa crítica se intensificou após uma discussão com o colega Gilmar Mendes, que havia feito observações sobre seu voto no julgamento de Bolsonaro.

O julgamento do núcleo 4 é o segundo a ser realizado pelo STF, sendo que o julgamento do núcleo 1 foi concluído em 11 de setembro, resultando na condenação de todos os oito réus, incluindo Bolsonaro, que foi sentenciado a 27 anos e 3 meses de prisão.

Com a leitura de seu voto, Fux reafirma sua posição divergente em relação a outros ministros, consolidando um debate acirrado sobre a interpretação das ações relacionadas aos eventos de 8 de janeiro.

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