Estudo revela que pílula tripla reduz em 39% risco de AVC em pacientes brasileiros
Pesquisa realizada no Brasil mostra que medicamento diminui em 60% a recorrência de AVC hemorrágico, o mais grave
Uma pesquisa inovadora conduzida no Brasil revelou que uma pílula tripla, composta por três medicamentos anti-hipertensivos, pode reduzir em 39% o risco de novos episódios de acidente vascular cerebral (AVC) em pacientes que já sofreram AVC hemorrágico, considerado o mais grave. O estudo, realizado pelo Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, em parceria com o The George Institute for Global Health, da Austrália, também apontou uma redução de 60% na possibilidade de recorrência do AVC hemorrágico.
Os resultados foram apresentados recentemente no Congresso Mundial de AVC, realizado em Barcelona, e destacam a importância da polipílula, que combina telmisartan, amlodipina e indapamina. Esses medicamentos, aprovados para uso no Brasil, são comercializados separadamente, mas sua combinação em uma única pílula visa facilitar a adesão ao tratamento.
O estudo, conhecido como TRIDENT, envolveu 1.670 voluntários de 61 hospitais em 12 países, incluindo Austrália, Holanda, Nigéria, Singapura, Suíça, Inglaterra e Taiwan. Desses, 833 pacientes receberam a polipílula, enquanto 837 foram submetidos a um tratamento placebo. Todos os participantes mantiveram o tratamento padrão recomendado após o AVC hemorrágico e foram acompanhados por três anos.
A neurologista Sheila Martins, chefe do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital Moinhos de Vento e coordenadora do estudo no Brasil, enfatizou a relevância da pesquisa, afirmando: “As pessoas que já tiveram AVC hemorrágico estão em maior risco de novos eventos, incluindo AVC isquêmico, infarto do miocárdio e morte cardiovascular. O estudo TRIDENT foi idealizado para atuar na hipertensão, principal fator de risco para esses pacientes”.
Embora a polipílula ainda não esteja disponível comercialmente, ela está em processo de submissão à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e à FDA, a agência reguladora dos Estados Unidos. A combinação dos três medicamentos em doses baixas permite um controle mais rápido da pressão arterial, reduzindo os efeitos colaterais que podem ocorrer com dosagens mais altas.
Os resultados do estudo demonstraram que a polipílula não apenas reduziu em 39% o risco de recorrência de todos os tipos de AVC, mas também teve um impacto significativo na prevenção de AVC hemorrágico, com uma redução de 60% no risco de novos eventos. Além disso, foi observada uma diminuição de 39% nos desfechos combinados de AVC, infarto, hospitalização e morte cardiovascular.
No Brasil, cerca de 258.000 casos de AVC são registrados anualmente, sendo 50.000 deles do tipo hemorrágico. Essa forma da doença é a mais grave e difícil de tratar, com uma taxa de mortalidade ou dependência em 60% dos pacientes. O estudo TRIDENT, por ser o maior de prevenção secundária do AVC hemorrágico no mundo, pode ter um impacto significativo na saúde pública.
A implementação de polipílulas é vista como uma estratégia promissora para melhorar a adesão ao tratamento, especialmente para pacientes que lidam com múltiplas condições de saúde. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o uso de polipílulas para reduzir o risco cardiovascular, e os pesquisadores esperam que, com a realização de estudos no Brasil, o tratamento possa ser subsidiado para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).
Se a polipílula for adotada amplamente, estima-se que cerca de 19.500 casos de AVC hemorrágico poderiam ser evitados anualmente no Brasil, resultando em uma melhoria significativa na qualidade de vida dos pacientes e uma redução de custos para o sistema de saúde pública.
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