Estudo inédito revela que o gene IFIT3 é fundamental para a resistência ao SARS-CoV-2 em mulheres assintomáticas
02 de Dezembro de 2024 às 11h16

Pesquisadores brasileiros identificam gene que pode proteger contra a covid-19

Estudo inédito revela que o gene IFIT3 é fundamental para a resistência ao SARS-CoV-2 em mulheres assintomáticas

Uma pesquisa inovadora realizada por cientistas do Centro de Estudos do Genoma Humano e de Células-Tronco (CEGH-CEL) da Universidade de São Paulo (USP) identificou um gene que pode oferecer proteção contra a covid-19. O gene em questão, denominado IFIT3, mostrou-se crucial para a resistência ao SARS-CoV-2 em um grupo de mulheres que, apesar de expostas ao vírus, não desenvolveram sintomas da doença.

A investigação, que teve início em 2020, analisou 86 casais sorodiscordantes, ou seja, casais em que apenas um dos cônjuges foi infectado pelo coronavírus. Entre esses, apenas seis casais se mantiveram sorodiscordantes ao longo do tempo, com as mulheres apresentando resistência notável ao vírus, mesmo após contato próximo com seus parceiros infectados.

Os resultados foram publicados recentemente na revista Frontiers in Cellular and Infection Microbiology. O estudo revelou que as mulheres resistentes apresentavam uma superexpressão do gene IFIT3 em comparação aos maridos infectados. Essa proteína, segundo os pesquisadores, desempenha um papel fundamental na resposta antiviral, pois se liga ao RNA do vírus, impedindo sua replicação e a progressão da doença.

- CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE -

“Trata-se de um gene que já foi associado à proteção contra outras infecções virais, como dengue e hepatite B. No entanto, este é o primeiro estudo a demonstrar sua eficácia protetora especificamente contra o SARS-CoV-2”, afirmou Mateus Vidigal, primeiro autor do artigo e pesquisador envolvido no projeto de pós-doutorado apoiado pela FAPESP.

Os pesquisadores realizaram experimentos in vitro com células sanguíneas dos casais, onde puderam observar que as células das mulheres resistentes apresentavam níveis elevados do gene IFIT3. “Isso sugere que, embora tenham contraído o vírus, a multiplicação do SARS-CoV-2 dentro de suas células foi severamente limitada, o que explica a ausência de sintomas”, explicou Vidigal.

Além de esclarecer um fenômeno intrigante observado durante a pandemia, os achados da pesquisa abrem novas perspectivas para o desenvolvimento de terapias antivirais. O gene IFIT3 pode se tornar um alvo terapêutico promissor, potencializando a resposta imunológica inata contra o SARS-CoV-2 e outros patógenos.

“Encontramos um biomarcador de resistência ao vírus, o que nos dá uma base sólida para futuras investigações sobre os mecanismos de proteção. No entanto, ainda há muitas perguntas a serem respondidas sobre como a expressão do IFIT3 pode ser aumentada”, concluiu Edecio Cunha Neto, professor da Faculdade de Medicina da USP e pesquisador do Instituto do Coração (InCor).

Veja também:

Tópicos: