Taxas futuras de juros disparam após PIB forte e incertezas fiscais no Brasil
Dados positivos do PIB e desconfiança em pacote fiscal elevam expectativas de juros mais altos no país.
As taxas dos Depósitos Interfinanceiros (DIs) encerraram a terça-feira (3) com uma alta expressiva, superior a 30 pontos-base nos contratos de longo prazo. Esse movimento foi impulsionado por dados robustos do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e pela crescente desconfiança do mercado em relação ao pacote fiscal apresentado pelo governo.
Os resultados do PIB e a situação fiscal indicam a necessidade de juros mais elevados para conter a inflação, resultando em uma abertura da curva a termo brasileira. No final do dia, a taxa do DI para janeiro de 2025, que reflete as expectativas para a Selic a curto prazo, alcançou 11,696%, em comparação com 11,657% do ajuste anterior. Para janeiro de 2027, a taxa subiu para 14,345%, um aumento de 27 pontos-base.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2030 foi de 14,09%, ante 13,77% do ajuste anterior, enquanto o contrato para janeiro de 2031 registrou 14%, uma alta de 32 pontos-base.
Na manhã de ontem, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que o PIB cresceu 0,9% no terceiro trimestre em relação aos três meses anteriores. Embora esse resultado esteja alinhado com as expectativas de economistas, ele continua a sinalizar uma economia aquecida, com potencial inflacionário.
“É um número relativamente forte... Esse crescimento reforça a percepção do Banco Central de que a economia está operando acima de sua capacidade produtiva, aumentando as chances de que o Copom atue de forma mais contundente”, afirmou André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online.
O cenário fiscal do Brasil também contribuiu para a elevação das taxas futuras. Apesar do anúncio de um corte de R$ 71,9 bilhões em despesas ao longo de dois anos, a proposta de isenção de Imposto de Renda para rendimentos superiores a R$ 5 mil mensais foi recebida de forma negativa pelo mercado.
Luciano Rostagno, estrategista-chefe e sócio da EPS Investimentos, comentou: “O cenário global é desafiador, e a economia brasileira continua aquecida, crescendo acima do potencial, o que gera riscos de pressões inflacionárias”.
Embora o pacote fiscal tenha sido considerado razoável ao abordar problemas identificados pelo mercado, a proposta de isenção de IR foi vista como um sinal de que o governo corta despesas por obrigação e não por convicção.
No pior momento do dia, às 11h38, a taxa do DI para janeiro de 2027 atingiu 14,39%, com um aumento de 31 pontos-base em relação ao ajuste anterior.
À tarde, o Tesouro Nacional informou que o governo central registrou um superávit primário de R$ 40,8 bilhões em outubro, o segundo melhor resultado histórico para o período, em comparação com R$ 18,1 bilhões no mesmo mês do ano passado. Apesar do resultado positivo, as preocupações em relação ao equilíbrio fiscal persistem, mesmo após o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, afirmar que o governo está se encaminhando para cumprir a meta fiscal de 2024.
Durante a coletiva, o subsecretário da Dívida Pública do Tesouro, Otavio Ladeira, afirmou que, apesar da recente disparada das taxas futuras de juros, não há intenção de intervir no mercado por meio da recompra de títulos públicos. “Não vemos e não estamos vendo nenhum momento em que faça sentido haver recompra de títulos públicos”, disse Ladeira.
Neste contexto, a curva brasileira precificava, perto do fechamento, 25% de probabilidade de uma alta de 100 pontos-base na taxa Selic neste mês, em contraste com 75% de chance de um aumento de 75 pontos-base. A Selic atualmente está em 11,25% ao ano.
Às 16h41, o rendimento do Treasury de dez anos, referência global para decisões de investimento, subia 2 pontos-base, alcançando 4,215%.
Veja também: