Dólar atinge novo recorde histórico em meio a incertezas fiscais e externas
Após três dias de queda, a moeda americana fechou a R$ 6,0708, maior valor nominal já registrado.
No fechamento do mercado nesta sexta-feira, 6, o dólar à vista não apenas interrompeu uma sequência de três pregões em queda, como também atingiu um novo pico histórico nominal, encerrando o dia cotado a R$ 6,0708. A alta de 1,02% foi impulsionada por fatores globais e por preocupações com o pacote fiscal do governo brasileiro, que enfrenta resistência no Congresso.
A valorização da moeda americana é atribuída a um contexto de incertezas fiscais no Brasil, onde crescem os receios de desidratação do pacote de contenção de gastos. Isso ocorre em um cenário de baixa nas commodities, como petróleo e minério de ferro, que impactam diretamente a economia nacional. Além disso, a valorização do dólar globalmente também contribui para a pressão sobre o real.
Os dados do relatório de emprego (payroll) nos Estados Unidos, divulgados recentemente, apresentaram resultados mistos. A geração de vagas superou as expectativas, mas a taxa de desemprego também aumentou. Com esses indicadores, as apostas sobre uma possível nova redução da taxa básica de juros pelo Federal Reserve em 25 pontos-base neste mês aumentaram, embora haja preocupações sobre a capacidade de manutenção dessa política monetária ao longo de 2025.
O dólar atingiu sua máxima a R$ 6,0925 ao longo do dia. A moeda encerrou a primeira semana de dezembro com uma valorização acumulada de 1,16%, após um aumento de 3,81% no mês anterior. Em termos anuais, o dólar apresenta um ganho de 25,54% em relação ao real.
Enquanto isso, o índice DXY, que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes, superou novamente os 106,100 pontos. Essa valorização é impulsionada principalmente pelos ganhos do dólar frente ao euro, com analistas prevendo um enfraquecimento ainda maior da moeda europeia em função do dinamismo da economia americana e das expectativas de cortes mais agressivos nas taxas de juros pelo Banco Central Europeu (BCE).
O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, destacou que, apesar dos fatores globais adversos, o real está se desvalorizando mais rapidamente do que outras moedas emergentes. Ele ressaltou a necessidade de atenção em relação à próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para quarta-feira, 11. A expectativa é que o relatório Focus, a ser divulgado na segunda-feira, 9, mostre uma revisão significativa para cima das projeções do IPCA de 2025.
“O mercado já precifica uma alta de 100 pontos-base da Selic na próxima semana. Há um movimento de investidores buscando proteção contra a possibilidade de que o comitê não adote medidas suficientes para conter a desancoragem das expectativas em um contexto de crescente incerteza fiscal”, afirmou Borsoi, que também mencionou a possibilidade de desidratação do pacote de cortes de gastos, que já era considerado problemático durante sua tramitação no Congresso.
Além disso, deputados, especialmente do PT, revelaram resistência a aprovar alterações que dificultariam o acesso de idosos e pessoas com deficiência de baixa renda ao Benefício de Prestação Continuada (BPC). As mudanças estão contidas tanto no projeto de lei complementar que revisa programas sociais quanto na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) relacionada às medidas fiscais. O governo espera economizar cerca de R$ 2 bilhões anualmente com essas revisões e R$ 12 bilhões ao longo de seis anos.
A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, alertou para o impacto contínuo dos desdobramentos do pacote de cortes de despesas nos mercados, que pode ser menor do que o previsto pelo governo. “A resistência a pontos específicos, como os ajustes no BPC, sugere uma possível desidratação do projeto original, o que contribui para a deterioração dos ativos domésticos”, finalizou Damico, destacando que o real termina a semana com desempenho inferior em comparação com suas contrapartes.
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