Estudo revela que 260 dos 772 municípios da Amazônia Legal estão sob influência de facções, com destaque para Comando Vermelho e PCC.
11 de Dezembro de 2024 às 09h07

Crescimento alarmante de facções criminosas atinge um terço da Amazônia Legal

Estudo revela que 260 dos 772 municípios da Amazônia Legal estão sob influência de facções, com destaque para Comando Vermelho e PCC.

Um estudo recente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em parceria com o Instituto Mãe Crioula, revelou que a presença de facções criminosas na Amazônia Legal aumentou 46% entre 2023 e 2024. Atualmente, 260 dos 772 municípios da região registram a atuação de grupos como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC), um crescimento alarmante que destaca a expansão do crime organizado no Norte do Brasil.

O levantamento, intitulado Cartografias da Violência na Amazônia, foi divulgado nesta quarta-feira (11) e aponta que, em 2023, apenas 178 cidades tinham a presença de facções. O aumento significativo no número de municípios afetados indica uma mudança preocupante no cenário de segurança pública da região, que abrange estados como Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão.

Os pesquisadores consideram o número de 260 cidades como conservador, sugerindo que a presença criminosa pode ser ainda maior. “É possível que a gente tenha facções em outros municípios onde ainda não surgiram indícios que possamos documentar”, afirmou David Marques, coordenador de projetos do Fórum. O estudo também revelou que o número de facções atuando na região caiu de 22 para 19, com o CV e o PCC se destacando como as principais organizações.

O Comando Vermelho, originário do Rio de Janeiro, domina a cena criminosa em pelo menos 130 municípios, muitos deles localizados em áreas de fronteira com países como Bolívia, Peru e Colômbia. Essa expansão é vista como uma estratégia para fortalecer o tráfico transnacional de drogas, aproveitando-se da geografia da Amazônia, que é um ponto estratégico para o comércio ilícito.

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O estudo também aponta uma estabilização em alguns conflitos entre facções, com 176 municípios dominados por um único grupo criminoso. Em 84 cidades, no entanto, há disputas entre dois ou mais grupos, o que pode aumentar os índices de violência. A taxa de homicídios na Amazônia Legal, embora tenha caído 6,2% entre 2021 e 2023, ainda é considerada alta, com 32,3 mortes a cada 100 mil habitantes, 41,5% acima da média nacional.

Os pesquisadores destacam que a interiorização da violência está transformando cidades pequenas e antes pacatas em locais de alta criminalidade. Municípios como Cumaru do Norte, no Pará, que possui uma taxa de 141,3 mortes a cada 100 mil habitantes, exemplificam essa tendência. A dinâmica do narcotráfico, que se entrelaça com outras atividades criminosas, como o garimpo e o desmatamento, tem contribuído para a degradação social e ambiental da região.

O estudo também relaciona a degradação ambiental à violência, apontando que os vetores de desmatamento, como rodovias e projetos de infraestrutura, têm gerado conflitos e intensificado a presença de facções. “Esses setores de desenvolvimento econômico são pensados de forma predatória, avançando sobre áreas de preservação e terras indígenas”, afirmam os pesquisadores.

Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum, atribui a hegemonia do CV na Amazônia Legal ao foco do PCC em outras rotas, permitindo que o CV se consolidasse na região. “O Comando Vermelho foi engolindo as facções locais, como a Família do Norte, e seu modelo de negócios menos hierárquico favoreceu essa aproximação”, explicou Lima, ressaltando que o crime organizado se tornou um dos principais empregadores na Amazônia.

O cenário atual exige uma resposta robusta das autoridades, que precisam implementar políticas públicas eficazes para combater a violência e a presença de facções. A articulação entre instituições de segurança pública e iniciativas inovadoras, como a Operação Curupira, que visa integrar ações de combate ao crime e à proteção ambiental, são passos importantes para enfrentar essa realidade desafiadora.

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