Periquito-cara-suja reaparece após 114 anos e marca retorno à Caatinga
Espécie ameaçada de extinção é reintroduzida em habitat natural no Ceará, trazendo esperança para a biodiversidade
Após mais de um século sem registros na região do Planalto da Ibiapaba, entre os municípios de Crateús (CE) e Buriti dos Montes (PI), 18 exemplares do periquito-cara-suja (Pyrrhura griseipectus) foram reintroduzidos na Reserva Natural Serra das Almas (RNSA) na madrugada desta quinta-feira (12). Este retorno é considerado um marco histórico e ecológico, simbolizando uma reparação ambiental e uma vitória para a conservação da biodiversidade brasileira.
Segundo Fábio Nunes, biólogo da Aquasis, a reintrodução da espécie pode gerar impactos positivos significativos, como incentivar a conservação no entorno da reserva e fomentar o turismo ecológico. “A reintrodução do periquito-cara-suja pode abrir caminho para a reintrodução de outras espécies no futuro”, afirmou Nunes.
A Reserva Natural Serra das Almas já se tornou um refúgio para várias espécies que retornaram naturalmente, como a paca, o tatu-bola e o guariba-da-caatinga. No entanto, espécies que foram extintas localmente devido à ação humana, como o cara-suja, as emas e as araras, necessitam de intervenções diretas para que possam voltar ao seu habitat.
A iniciativa faz parte do projeto Refaunar Arvorar, desenvolvido pelo Parque Arvorar em parceria com as ONGs Associação Caatinga e Aquasis. Este projeto já reintroduziu outras aves, como a jandaia-verdadeira (Aratinga jandaya), e integra o Plano de Ação Nacional para Conservação das Aves da Caatinga, liderado pelo Ministério do Meio Ambiente, que visa proteger espécies nativas em risco.
Antes da reintrodução, os 18 periquitos passaram por avaliações rigorosas conduzidas por biólogos, veterinários e zootecnistas para garantir sua saúde e adaptação ao ambiente. Os indivíduos foram selecionados com base em critérios utilizados em uma soltura anterior na Serra da Aratanha, em 2022, que incluíam pertencer a grupos familiares de vida livre, estarem habituados ao uso de caixas-ninho e terem sido previamente treinados para utilizar comedouros.
“Esses processos são essenciais para garantir a sobrevivência dos animais no habitat natural e minimizar riscos, como predadores e doenças”, explicou Nunes. As aves passaram cinco meses em recintos de aclimatação dentro da reserva, um período crucial para que se familiarizassem com o ambiente e fortalecessem os laços do grupo familiar.
Outros três periquitos, apreendidos pelo IBAMA e acolhidos no Parque Arvorar, também serão translocados para a reserva, onde passarão por um período de aclimatação antes de serem soltos definitivamente.
A Reserva Natural Serra das Almas, com 6.285 hectares de vegetação preservada, é reconhecida pela UNESCO como o primeiro Posto Avançado da Biosfera no estado do Ceará. Além de abrigar espécies ameaçadas de extinção, como o periquito-cara-suja, a reserva desempenha um papel crucial na manutenção de serviços ecossistêmicos, como a proteção de nascentes e a preservação do bioma caatinga.
O parque temático Arvorar, inaugurado recentemente, tem como principal foco a educação e a conservação ambiental. Além de abrigar projetos como o Refauna Arvorar, o espaço promove atividades voltadas para o engajamento comunitário e a conscientização sobre a importância da fauna e flora locais. Com a soltura dos periquitos-cara-suja, o projeto reforça sua missão de resgatar espécies ameaçadas e contribuir para a recuperação do equilíbrio ecológico da caatinga, prometendo inspirar novas ações de conservação no Brasil e no mundo.
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