Espécie ameaçada de extinção é reintroduzida em habitat natural no Ceará, trazendo esperança para a biodiversidade
12 de Dezembro de 2024 às 12h00

Periquito-cara-suja reaparece após 114 anos e marca retorno à Caatinga

Espécie ameaçada de extinção é reintroduzida em habitat natural no Ceará, trazendo esperança para a biodiversidade

Após mais de um século sem registros na região do Planalto da Ibiapaba, entre os municípios de Crateús (CE) e Buriti dos Montes (PI), 18 exemplares do periquito-cara-suja (Pyrrhura griseipectus) foram reintroduzidos na Reserva Natural Serra das Almas (RNSA) na madrugada desta quinta-feira (12). Este retorno é considerado um marco histórico e ecológico, simbolizando uma reparação ambiental e uma vitória para a conservação da biodiversidade brasileira.

Segundo Fábio Nunes, biólogo da Aquasis, a reintrodução da espécie pode gerar impactos positivos significativos, como incentivar a conservação no entorno da reserva e fomentar o turismo ecológico. “A reintrodução do periquito-cara-suja pode abrir caminho para a reintrodução de outras espécies no futuro”, afirmou Nunes.

A Reserva Natural Serra das Almas já se tornou um refúgio para várias espécies que retornaram naturalmente, como a paca, o tatu-bola e o guariba-da-caatinga. No entanto, espécies que foram extintas localmente devido à ação humana, como o cara-suja, as emas e as araras, necessitam de intervenções diretas para que possam voltar ao seu habitat.

A iniciativa faz parte do projeto Refaunar Arvorar, desenvolvido pelo Parque Arvorar em parceria com as ONGs Associação Caatinga e Aquasis. Este projeto já reintroduziu outras aves, como a jandaia-verdadeira (Aratinga jandaya), e integra o Plano de Ação Nacional para Conservação das Aves da Caatinga, liderado pelo Ministério do Meio Ambiente, que visa proteger espécies nativas em risco.

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Antes da reintrodução, os 18 periquitos passaram por avaliações rigorosas conduzidas por biólogos, veterinários e zootecnistas para garantir sua saúde e adaptação ao ambiente. Os indivíduos foram selecionados com base em critérios utilizados em uma soltura anterior na Serra da Aratanha, em 2022, que incluíam pertencer a grupos familiares de vida livre, estarem habituados ao uso de caixas-ninho e terem sido previamente treinados para utilizar comedouros.

“Esses processos são essenciais para garantir a sobrevivência dos animais no habitat natural e minimizar riscos, como predadores e doenças”, explicou Nunes. As aves passaram cinco meses em recintos de aclimatação dentro da reserva, um período crucial para que se familiarizassem com o ambiente e fortalecessem os laços do grupo familiar.

Outros três periquitos, apreendidos pelo IBAMA e acolhidos no Parque Arvorar, também serão translocados para a reserva, onde passarão por um período de aclimatação antes de serem soltos definitivamente.

A Reserva Natural Serra das Almas, com 6.285 hectares de vegetação preservada, é reconhecida pela UNESCO como o primeiro Posto Avançado da Biosfera no estado do Ceará. Além de abrigar espécies ameaçadas de extinção, como o periquito-cara-suja, a reserva desempenha um papel crucial na manutenção de serviços ecossistêmicos, como a proteção de nascentes e a preservação do bioma caatinga.

O parque temático Arvorar, inaugurado recentemente, tem como principal foco a educação e a conservação ambiental. Além de abrigar projetos como o Refauna Arvorar, o espaço promove atividades voltadas para o engajamento comunitário e a conscientização sobre a importância da fauna e flora locais. Com a soltura dos periquitos-cara-suja, o projeto reforça sua missão de resgatar espécies ameaçadas e contribuir para a recuperação do equilíbrio ecológico da caatinga, prometendo inspirar novas ações de conservação no Brasil e no mundo.

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