Decisão do conselho estadual gera polêmica entre moradores e defensores do patrimônio histórico; oposição promete contestar na Justiça.
16 de Dezembro de 2024 às 15h01

Revisão de tombamento permite construção de condomínios nos Jardins de São Paulo

Decisão do conselho estadual gera polêmica entre moradores e defensores do patrimônio histórico; oposição promete contestar na Justiça.

Na última segunda-feira (16), um conselho estadual aprovou a revisão das regras de tombamento dos Jardins, uma das áreas mais nobres de São Paulo, permitindo a construção de condomínios residenciais. A decisão, que estava em discussão há anos, visa facilitar a subdivisão de terrenos, possibilitando a edificação de empreendimentos multifamiliares em uma região tradicionalmente restrita ao uso unifamiliar.

A nova resolução revoga normas anteriores que limitavam a ocupação dos terrenos a uma única construção, permitindo agora a criação de condomínios horizontais e prédios de até três andares, com altura máxima de 10 metros. A medida é vista como uma tentativa de aumentar a densidade populacional e a oferta de moradias em uma área que possui uma infraestrutura urbana consolidada e áreas arborizadas.

Entretanto, a decisão gerou controvérsia entre os moradores locais e defensores do patrimônio histórico. A associação de moradores, conhecida como AME Jardins, anunciou que pretende contestar a decisão na Justiça, argumentando que a revisão do tombamento pode levar à descaracterização do bairro e à degradação do modelo urbanístico que o caracteriza.

A AME Jardins ressalta que o tombamento, que ocorreu em 1986, é essencial para preservar a qualidade de vida na região. Em nota, a associação afirmou que a manutenção das áreas residenciais unifamiliares é “fundamental para evitar a descaracterização dos bairros e impactos negativos ao seu modelo urbanístico”.

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Embora a nova legislação facilite a construção, algumas restrições foram mantidas. Por exemplo, a criação de ruas dentro dos lotes continua proibida, a fim de evitar a formação de vilas. Além disso, a legislação estabelece que a área ajardinada deve ser obrigatória, garantindo a preservação do verde no bairro.

Os defensores da revisão argumentam que a flexibilização das regras é necessária para revitalizar a região, que, segundo eles, enfrenta um processo de esvaziamento. No entanto, críticos da medida alertam que a construção de novos empreendimentos pode resultar em maior adensamento, aumento do tráfego e poluição, prejudicando a qualidade de vida dos moradores.

A nova regra também transfere para a prefeitura a responsabilidade sobre o uso dos imóveis, condicionando as decisões à Lei de Zoneamento. Isso significa que, embora o conselho tenha aprovado a revisão, a implementação das novas normas dependerá da análise e homologação por parte dos órgãos municipais de preservação do patrimônio histórico.

O debate sobre a revisão do tombamento dos Jardins começou em 2013, e a proposta foi submetida a audiências públicas antes de sua aprovação. Os moradores temem que a nova legislação possa abrir precedentes para a construção de empreendimentos que não respeitem a identidade histórica da região.

Os Jardins, que foram tombados em 1986 por preservar o conceito de cidade-jardim, têm uma ocupação que remonta a 1915, quando a empresa inglesa City of São Paulo Improvements and Freehold Company Limited organizou um loteamento residencial voltado para a elite da época. A preservação dessa história é uma das principais preocupações dos moradores, que defendem a manutenção das características originais do bairro.

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