O país nórdico implementou a educação midiática no currículo escolar, visando combater a desinformação.
03 de Janeiro de 2025 às 11h44

Finlândia ensina jovens a identificar notícias falsas em escolas

O país nórdico implementou a educação midiática no currículo escolar, visando combater a desinformação.

A Finlândia, reconhecida como um dos líderes em educação midiática na Europa, tem incorporado ao seu currículo escolar as habilidades necessárias para que os jovens possam detectar fraudes e desinformação. Essa iniciativa surge em um momento em que as campanhas de notícias falsas se intensificam globalmente.

Durante uma aula em Helsinque, a professora Saara Varmola, que leciona língua e literatura finlandesa, questiona seus alunos de 14 e 15 anos: “Quem já sabia o que é uma trolagem?”. A pergunta provoca uma reflexão crítica sobre a origem e a responsabilidade do conteúdo que consomem.

Varmola destaca a importância de ensinar os estudantes a analisarem criticamente o conteúdo midiático, a desconstruírem fraudes e a criarem suas próprias narrativas. “Quem produz o conteúdo e quem consome? O que você mesmo produz e quais as suas responsabilidades éticas nisso?”, questiona a educadora, enfatizando a necessidade de uma educação midiática como uma habilidade cívica essencial.

A Finlândia foi pioneira na Europa ao estabelecer uma política nacional de educação midiática em 2013, e desde 2019, essa abordagem se tornou parte das disciplinas do ensino fundamental e médio. Para atender também à população adulta, ONGs e bibliotecas públicas têm oferecido cursos que visam aprimorar as habilidades de análise crítica em relação à informação.

O ministro da Educação, Anders Adlercreutz, ressalta que “a educação midiática é fundamental para construir resiliência social, e a Finlândia percebeu isso mais cedo”. Ele acrescenta que “é muito importante ter a capacidade de avaliar criticamente o que é lido, uma vez que os veículos tradicionais produzem cada vez menos a informação que recebemos”.

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O sucesso da educação midiática na Finlândia é atribuído a um esforço colaborativo entre diversos setores da sociedade. Adlercreutz explica que “não é apenas na escola; também estão envolvidos os meios de comunicação, jornais, empresas, bibliotecas e museus, todos participando desse trabalho”.

Leo Pekkala, vice-diretor do Instituto Nacional do Audiovisual, que supervisiona a implementação das políticas de educação para a mídia, observa que a confiança dos finlandeses nas instituições sociais é um fator crucial. “Nós, finlandeses, ainda temos muita confiança na aplicação da lei, no exército, na polícia e no governo. Confiamos em nossos políticos e também em nossa imprensa”, afirma.

Na prática, Varmola distribui tarefas de casa que desafiam seus alunos a refletirem sobre a desinformação online. Perguntas como “O conteúdo patrocinado é uma forma de influenciar por meio de informações?” e “Os youtubers e streamers podem nos enganar?” são discutidas em sala de aula.

Bruno Kerman, um dos estudantes, comenta: “Sim, youtubers, streamers e pessoas que usam mídias sociais podem fazer isso. Na minha opinião, é algo com que você pode se deparar”. Seu colega Niilo Korkeaoja complementa: “Sim, e quem os está impedindo?”.

Os alunos reconhecem que o sistema educacional lhes proporcionou a capacidade de identificar informações suspeitas online, analisar criticamente o conteúdo que consomem e verificar as fontes encontradas nas redes sociais, como TikTok, Snapchat e Instagram.

Pekkala conclui que “nosso objetivo é promover as habilidades que permitirão que as pessoas pensem e ajam de forma crítica e sejam membros ativos de uma sociedade democrática”. No entanto, o maior desafio é manter todos os cidadãos atualizados sobre as mudanças na esfera digital, especialmente a crescente população idosa que pode não ter aprendido a identificar notícias falsas na Internet.

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