Cerca de 300 mil bebês nasceram prematuros, representando 12% dos partos no país.
04 de Janeiro de 2025 às 16h21

Taxa de nascimentos prematuros no Brasil supera média global em 2023

Cerca de 300 mil bebês nasceram prematuros, representando 12% dos partos no país.

A gestação humana, embora comumente referida como "nove meses", na verdade se estende por aproximadamente 40 semanas. Considera-se que um parto ocorre a termo quando acontece entre 37 e 42 semanas. No entanto, em 2023, o Brasil registrou cerca de 300 mil nascimentos prematuros, o que equivale a quase 12% do total de partos no país. Essa taxa é superior à média global, que gira em torno de 10%, colocando o Brasil entre os dez países com maior número de nascimentos prematuros anualmente.

De acordo com Denise Suguitani, diretora executiva da Associação Brasileira de Pais, Familiares, Amigos e Cuidadores de Bebês Prematuros, muitos desses casos são passíveis de prevenção. Ela destaca que "as taxas de prematuridade no Brasil estão intimamente ligadas a determinantes sociais, como o acesso à saúde e à educação. A gestação na adolescência é um fator de risco significativo, pois o corpo da jovem não está totalmente preparado para a gravidez. Por outro lado, bebês planejados têm menor probabilidade de nascer prematuramente, o que evidencia a importância do planejamento familiar e do acesso ao pré-natal de qualidade".

A obstetra Joeline Cerqueira, membro da Comissão de Assistência Pré-Natal da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), aponta que várias condições podem ser identificadas durante o pré-natal e tratadas para evitar partos prematuros. Ela menciona que "infecções, ruptura prematura da bolsa e síndromes hipertensivas são algumas das principais causas de prematuridade".

Joeline enfatiza a importância de iniciar o pré-natal precocemente e realizar todos os exames recomendados. "Durante o ultrassom morfológico, medimos o colo do útero. Se ele estiver muito curto, a mulher tem um risco maior de parto prematuro. A progesterona via vaginal pode ser utilizada como um relaxante muscular para prevenir contrações precoces, e esse exame deve ser feito por volta da 22ª semana de gestação", explica.

Principais causas de prematuridade

A ruptura prematura da bolsa é mais comum em gestantes adolescentes ou em mulheres mais velhas, além de afetar aquelas com malformações uterinas, desnutrição ou que consomem álcool e drogas durante a gravidez. O risco também aumenta em gestações múltiplas e quando a placenta está mal posicionada no útero. Mesmo quando a causa não pode ser revertida, a gestante pode ser monitorada com mais frequência e, em alguns casos, internada para receber medicamentos que acelerem a maturidade dos órgãos do bebê e prolonguem a gestação.

Infecções bacterianas, especialmente as urinárias e de transmissão sexual, são grandes responsáveis pela prematuridade. As infecções de transmissão sexual podem ser detectadas em exames laboratoriais e prevenidas com práticas de sexo seguro. Já a infecção urinária é comum durante a gestação e pode não apresentar sintomas, mas sinais como desconforto abdominal ou aumento da vontade de urinar devem ser avaliados. O tratamento com antibióticos pode evitar o parto prematuro.

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A hipertensão é um dos principais fatores de complicações na gravidez e, além de causar partos prematuros, é a maior causa de morte materna e perinatal no Brasil. Estima-se que 15% das gestantes apresentem pressão alta durante a gravidez, e um quarto dos partos prematuros ocorre por esse motivo. Por isso, a aferição da pressão arterial é um procedimento básico nas consultas de pré-natal. Joeline ressalta: "A melhor prevenção é a primária, ou seja, identificar o potencial de hipertensão grave na gravidez e iniciar a profilaxia com ácido acetilsalicílico (AAS) e cálcio. Mesmo quando a pressão começa a subir, o tratamento precoce pode prevenir até 80% dos desfechos adversos".

Denise Suguitani também aponta que a alta taxa de cesarianas no Brasil contribui para o aumento da prematuridade. Em 2023, quase 60% dos nascimentos ocorreram por meio de cesáreas, muitas delas eletivas, ou seja, agendadas sem indicação médica. "Isso resulta em mais bebês prematuros, pois a gestação não é uma matemática exata. O Conselho Federal de Medicina permite o agendamento de cesarianas apenas a partir de 39 semanas, mas erros de cálculo podem levar a partos antes do ideal, resultando em bebês imaturos que podem necessitar de cuidados intensivos", complementa Denise.

Consequências da prematuridade

Um feto é considerado viável a partir das 25 semanas de gestação e com peso mínimo de 500 gramas. Contudo, a taxa de mortalidade entre os prematuros extremos varia entre 30% e 45%, e menos da metade dos sobreviventes se desenvolvem sem deficiências. A cada semana adicional de gestação, a taxa de sobrevivência aumenta e a probabilidade de sequelas diminui. Mesmo bebês nascidos dias antes do período ideal correm risco elevado de paralisia cerebral leve e atrasos no desenvolvimento.

Yngrid Antunes Louzada, que deu à luz gêmeos prematuros devido a uma infecção urinária, compartilha sua experiência. Seus filhos, Lucas e Isis, nasceram com apenas 27 semanas, pesando menos de 1 quilo. "Ficamos na UTI neonatal por 52 dias, sempre atentos a cada barulho e monitorando a saturação. A internação representava um risco de infecções, especialmente no contexto da pandemia de covid-19", relata Yngrid.

Após a alta, os gêmeos precisaram de acompanhamento contínuo, incluindo fisioterapia e terapia ocupacional. "A assistência que recebemos foi crucial para o desenvolvimento deles. Mesmo após a alta, é fundamental que prematuros recebam acompanhamento especializado para garantir um desenvolvimento saudável", conclui Yngrid.

Denise Suguitani reforça que a prematuridade não deve ser vista como uma sentença definitiva. "Cada bebê tem sua própria história. O acompanhamento multidisciplinar é essencial para identificar riscos e intervir precocemente, garantindo que esses pequenos tenham o suporte necessário para um desenvolvimento adequado", finaliza.

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