Saída de dólares do Brasil atinge recorde em 2024, segundo Banco Central
Dados do fluxo cambial revelam que o país registrou a maior retirada de dólares desde 2020, com saldo negativo de US$ 18 bilhões.
A saída de dólares do Brasil pela conta financeira em 2024 alcançou um total de US$ 87,2 bilhões, estabelecendo um novo recorde, conforme divulgado pelo Banco Central nesta quarta-feira (8). Este número representa a maior retirada de recursos por essa via desde o início da série histórica do BC, em 1982.
Até então, o maior volume de saída havia sido registrado em 2019, quando US$ 65,8 bilhões deixaram o país. A conta financeira abrange transações como compra e venda de dólares relacionadas a serviços, rendas, investimentos e aplicações financeiras no exterior.
Além da conta financeira, o fluxo cambial total do Brasil também inclui a conta comercial, que registra as transações de exportações e importações. Em 2024, a conta comercial trouxe ao país US$ 69,2 bilhões em dólares, provenientes das exportações.
Considerando todos os movimentos de dólares em 2024, incluindo as contas comercial e financeira, houve uma retirada líquida de US$ 18 bilhões do Brasil. Este é o maior saldo negativo anual desde 2020, quando a saída líquida foi de US$ 27,9 bilhões.
Somente em dezembro do ano passado, US$ 28,8 bilhões saíram do país pela conta financeira, enquanto a conta comercial registrou uma entrada de US$ 2,45 bilhões. Ao final do mês, a retirada total, considerando ambas as contas, foi de US$ 26,4 bilhões.
A forte saída de recursos, especialmente em dezembro, pressionou o valor do dólar, que chegou a operar acima de R$ 6,20. Essa escalada da moeda americana em 2024 é atribuída a uma combinação de fatores, incluindo conflitos internacionais, a política monetária dos Estados Unidos e a situação fiscal do Brasil.
O Banco Central interveio no mercado cambial, vendendo cerca de US$ 19 bilhões em dezembro, o que contribuiu para a redução das reservas internacionais do país. Analistas apontam que a incerteza em relação ao pacote de corte de gastos anunciado pelo governo também influenciou a valorização do dólar.
Roberto Campos Neto, ex-presidente do Banco Central, destacou que a saída atípica de recursos no final do ano foi notável e que a instituição decidiu intervir no câmbio para estabilizar a situação. Ele afirmou que o câmbio no Brasil é flutuante, mas a saída de divisas exigiu uma ação coordenada do BC.
“A gente discute entre a gente e tenta fazer uma intervenção que contrabalanceie o fluxo que está vendo [de saída]. Geralmente, a gente fatia as intervenções em alguns dias, o volume equivalente às retiradas”, acrescentou Campos Neto.
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