Café ao acordar: Mitos e verdades sobre o impacto no cortisol
Estudos divergem sobre os efeitos do café no hormônio do estresse; saiba o que é seguro consumir pela manhã.
O consumo de café, uma das bebidas mais populares do Brasil, frequentemente é alvo de debates sobre seus efeitos na saúde. Nos últimos anos, surgiram questionamentos sobre a possibilidade de que a cafeína, ao ser ingerida logo ao acordar, possa afetar negativamente o equilíbrio do cortisol, conhecido como o hormônio do estresse. Essa discussão ganhou força nas redes sociais, levando muitos a reconsiderar o hábito de tomar café pela manhã.
Segundo algumas teorias, a ingestão de café ao acordar poderia aumentar a secreção de cortisol, que já apresenta níveis elevados no organismo logo nas primeiras horas do dia. Esse aumento, segundo os críticos, poderia resultar em um desequilíbrio hormonal. No entanto, especialistas têm se manifestado sobre essa questão, buscando esclarecer os mitos e verdades relacionados ao tema.
A endocrinologista Cláudia Schimidt, professora da pós-graduação do Hospital Israelita Albert Einstein, afirma que “ainda que exista alguma correlação indireta entre a ingestão de cafeína e a produção de cortisol, não há evidências de impactos significativos ao organismo”. De acordo com a especialista, os efeitos adversos da cafeína sobre o hormônio estariam restritos a indivíduos sensíveis ou que consomem a substância em excesso.
Schimidt também critica o que ela chama de “terrorismo nutricional”, um fenômeno em que alimentos são indevidamente demonizados. Ela ressalta que, em um contexto saudável, o café pode trazer benefícios como proteção cardiovascular e auxílio no combate a doenças como diabetes e até mesmo distúrbios neurodegenerativos.
Por outro lado, o consumo excessivo de café pode levar a problemas como taquicardia e ansiedade, conforme alerta a nutricionista Letícia Ramalho, doutora pelo Laboratório de Cronobiologia e Sono da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ela destaca que o uso indiscriminado de suplementos de cafeína, cada vez mais comum, pode desencadear esses distúrbios.
Letícia também aponta que, apesar dos sintomas que podem surgir com o consumo excessivo, não se pode estabelecer uma relação direta entre a bebida e a produção de cortisol. “Não se trata da mesma via de liberação”, explica.
O cortisol, embora frequentemente associado ao estresse, desempenha funções essenciais no organismo. Ele é liberado pela glândula suprarrenal em resposta à ativação do sistema nervoso simpático, preparando o corpo para situações de emergência. Além disso, o hormônio está envolvido na regulação do sistema imunológico e no metabolismo da glicose.
O padrão de produção do cortisol segue um ritmo circadiano, começando a se elevar durante a madrugada e atingindo seu pico por volta das 8 horas da manhã, com os níveis mais baixos ocorrendo à noite. Essa regulação hormonal é influenciada por fatores como a luz e os hábitos de sono, mas não pela alimentação.
Em relação ao consumo de café e sono, é amplamente reconhecido que a ingestão da bebida próxima ao horário de dormir pode resultar em insônia. A cafeína, um alcaloide, atua como um estimulante do sistema nervoso central, bloqueando a adenosina, uma molécula que promove a sonolência.
Pesquisas recentes sugerem que o ideal é consumir café, no máximo, entre sete e nove horas antes de dormir. A nutricionista Letícia Ramalho recomenda que a última xícara seja tomada até as 15 horas, dependendo da rotina de cada um.
Em termos de quantidade, diretrizes sugerem que adultos saudáveis não ultrapassem quatro xícaras diárias, com um limite de 400 mg de cafeína por dia. Em média, uma xícara de café coado contém cerca de 100 mg de cafeína, enquanto um café expresso pode ter até 150 mg.
Portanto, sem excessos, o café pode ser um aliado da saúde, contribuindo para o bem-estar e a disposição ao longo do dia.
Veja também: