Com mais de 18 mil casos prováveis de dengue registrados em 2025, a situação é crítica em várias cidades do estado.
13 de Janeiro de 2025 às 15h09

Dengue: 21 cidades de São Paulo enfrentam emergência de saúde pública

Com mais de 18 mil casos prováveis de dengue registrados em 2025, a situação é crítica em várias cidades do estado.

O início de 2025 traz preocupações em São Paulo, onde já foram contabilizados mais de 18 mil casos prováveis de dengue. O estado enfrenta um cenário alarmante, com 21 municípios decretando emergência de saúde pública, entre eles Dirce Reis, Espírito Santo do Pinhal, Estrela D'Oeste, Glicério, Guarani D'Oeste, Igaratá, Indiaporã, Jacareí, Marinópolis, Mira Estrela, Ouroeste, Paraibuna, Populina, Potirendaba, Ribeira, Rubinéia, São Francisco, São José do Rio Preto, São José dos Campos, Tambaú e Tanabi.

Entre essas localidades, Glicério se destaca pela gravidade da situação. Com uma população de apenas 4.084 habitantes, o município já registrou 78 casos confirmados de dengue em 2025, conforme dados do Núcleo de Informações Estratégicas em Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP). Para comparação, em todo o ano de 2024, foram apenas 90 notificações.

A prefeitura de Glicério tem intensificado as ações de combate à dengue, realizando nebulizações nas ruas e visitas domiciliares para limpeza e eliminação de focos do mosquito Aedes aegypti. Além disso, a administração municipal ampliou a oferta de leitos para atender os pacientes afetados pela doença.

De acordo com Lidiane Beirassol, enfermeira da Vigilância Sanitária Epidemiológica, a região tem enfrentado um “aumento expressivo” de casos, e os agentes de combate às endemias têm encontrado dificuldades para desempenhar suas funções. “As pessoas não permitem a nebulização e não querem deixá-los entrar nas suas casas. Elas afirmam que não possuem criadouros e pedem que os agentes voltem em outra hora. Por isso, nós pedimos a colaboração da população”, afirmou.

Outra cidade com alta incidência é Turmalina, que, com apenas 1.640 habitantes, já contabilizou 42 casos da doença em 2025. Em 2024, o total foi de 103 ocorrências. A administração local está em contato com o Grupo de Vigilância Epidemiológica (GVE) do estado para avaliar a necessidade de declarar emergência, o que facilitaria a implementação de ações de combate à dengue.

No município de São José do Rio Preto, o prefeito Fábio Candido (PL) anunciou um mutirão de combate à dengue, que contará com a colaboração de cem detentos do regime semiaberto. A decisão foi tomada em resposta ao aumento de casos, que já somam 4.397 prováveis, e as atividades começam nesta segunda-feira, 13. Os reeducandos serão mobilizados para ajudar na limpeza de áreas críticas da cidade, eliminando criadouros do mosquito, sob a supervisão da Guarda Civil Municipal.

O infectologista Antonio Bandeira, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), destacou que, embora seja comum observar um aumento nos casos de dengue durante o verão, esse crescimento geralmente ocorre a partir de fevereiro ou março. Ele considera incomum o aumento de casos já em janeiro. “É cedo para afirmar se o quadro deste ano será tão grave quanto o do ano passado, que registrou um recorde histórico. É possível que o alto número de casos em 2024 tenha conferido a uma parte da população imunidade contra alguns sorotipos da doença, o que poderia limitar sua propagação”, explicou.

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Entretanto, um fator preocupante em 2025 é a maior circulação do sorotipo 3 do vírus da dengue. “Faz tempo que o sorotipo 3 não causava um número significativo de casos. Isso preocupa, pois indica que muitas pessoas não tiveram contato com ele”, alertou. Ao contrair dengue, a pessoa adquire imunidade permanente apenas para o sorotipo que causou a infecção, mas não para os outros, o que permite que a doença possa ser contraída mais de uma vez.

A secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Ethel Maciel, informou que o sorotipo 1 predominou durante boa parte de 2023 e 2024, enquanto o tipo 2 ganhou importância ao longo do ano passado. Desde dezembro, foi observado um aumento significativo de casos causados pelo sorotipo 3, especialmente em São Paulo, Amapá, Paraná e Minas Gerais.

A falta de imunidade da população é um dado alarmante. Uma pesquisa recente coordenada pela imunologista Ester Sabino, professora titular da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), revelou que 73% da população de São Paulo não possui imunidade contra nenhum dos quatro tipos do vírus da dengue.

“Os sintomas dos diferentes sorotipos são os mesmos. O que preocupa é que esse vírus pode permitir que as pessoas se infectem, mesmo após uma epidemia que conferiu imunidade contra os demais tipos”, concluiu Bandeira.

Sobre as vacinas, o Ministério da Saúde ainda não discute a ampliação do número de municípios que receberão a vacina Qdenga. Segundo a pasta, há limitações na produção do imunizante e todas as doses disponíveis já foram adquiridas. A Takeda, fabricante da Qdenga, prevê a entrega de 9 milhões de doses neste ano, mas as remessas serão feitas em etapas, com entregas mensais. A empresa afirma que o Brasil é o país com o maior número de doses disponíveis, mas que há outros 27 países com o imunizante em circulação. “A capacidade produtiva da companhia precisa atender a todos esses mercados”, informou.

Em dezembro, o Instituto Butantan finalizou o pedido de registro junto à Anvisa de sua vacina contra a dengue, a Butantan-DV. Se aprovada, um milhão de doses do imunizante poderão ser entregues ainda em 2025.

O estado de São Paulo está realizando capacitações para os municípios em vigilância e controle do Aedes aegypti, além de gerenciar equipamentos aplicadores e inseticidas para repasse aos municípios. O Ministério da Saúde anunciou a instalação do Centro de Operações de Emergência em Saúde (COE) para Dengue e outras Arboviroses em São Paulo, com o objetivo de ampliar o monitoramento das arboviroses e orientar a execução de ações voltadas à vigilância epidemiológica, laboratorial, assistencial e controle de vetores.

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