Especialistas propõem nova abordagem para diagnóstico da obesidade além do IMC
Reformulação no diagnóstico da obesidade sugere categorias clínicas e novas medições para avaliação de saúde.
Um grupo internacional de especialistas, reunido na Comissão sobre Obesidade Clínica, lançou uma proposta inovadora para o diagnóstico da obesidade, que vai além do tradicional índice de massa corporal (IMC). A nova abordagem, publicada na revista científica The Lancet Diabetes & Endocrinology, sugere que o IMC não deve ser o único critério para avaliar a obesidade, uma vez que essa métrica apresenta limitações significativas.
O IMC, que é calculado dividindo o peso em quilos pela altura em metros ao quadrado, classifica indivíduos com IMC entre 25 e 29,9 como sobrepeso e aqueles com IMC igual ou superior a 30 como obesidade. No entanto, especialistas alertam que essa fórmula não considera a distribuição de gordura corporal, o que pode levar a diagnósticos incorretos.
Robert Eckel, professor de medicina na Universidade do Colorado e membro da comissão, destaca que “confiar apenas no IMC para diagnosticar obesidade é problemático, pois algumas pessoas tendem a armazenar excesso de gordura na cintura ou em torno de órgãos vitais, o que está associado a um risco maior à saúde”.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de um bilhão de pessoas no mundo vivem com obesidade, e essa condição não afeta apenas adultos, mas também crianças e adolescentes. A nova proposta visa não apenas melhorar o diagnóstico, mas também reduzir o estigma associado à obesidade.
A Comissão propõe a introdução de duas novas categorias para o diagnóstico da obesidade: obesidade clínica e obesidade pré-clínica. A obesidade clínica é definida como uma condição médica que causa prejuízos ao funcionamento dos órgãos e limitações nas atividades diárias, enquanto a obesidade pré-clínica se refere a indivíduos que apresentam excesso de peso, mas que ainda não apresentam sintomas de doenças relacionadas.
Para um diagnóstico mais preciso, os especialistas recomendam que o IMC seja complementado por medições adicionais, como a circunferência da cintura e a análise da composição corporal. A proposta inclui também a realização de medições diretas da gordura corporal, como a densitometria óssea ou Dexa, que podem fornecer uma avaliação mais detalhada da saúde do paciente.
Ricardo Cohen, chefe do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e presidente mundial da IFSO (Federação Internacional de Cirurgia da Obesidade e Distúrbios Metabólicos), afirma que “essa nova classificação contribui para o planejamento de estratégias de saúde pública e o desenvolvimento de políticas mais eficazes e baseadas em evidências científicas”.
Os especialistas brasileiros apoiam a nova abordagem, ressaltando que ela traz uma visão mais abrangente sobre a obesidade. Paulo Miranda, coordenador da Comissão Internacional da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, destaca que “é uma tendência que já vem sendo proposta há alguns anos em diversas partes do mundo, e que não se limita apenas ao IMC”.
Além disso, a nova metodologia é considerada aplicável em qualquer lugar do mundo, embora os fatores de risco possam variar de acordo com a região. “A medicina hoje é de precisão, individualizada”, afirma Cohen.
Com a implementação dessas novas diretrizes, a expectativa é que o diagnóstico da obesidade se torne mais preciso e que os tratamentos sejam mais direcionados, garantindo que cada paciente receba o cuidado necessário, livre de julgamentos e estigmas.
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