Comissão internacional sugere métodos alternativos para diagnosticar sobrepeso, visando terapias mais eficazes e racionais.
17 de Janeiro de 2025 às 16h32

Obesidade: novas diretrizes propõem diagnósticos além do índice de massa corporal

Comissão internacional sugere métodos alternativos para diagnosticar sobrepeso, visando terapias mais eficazes e racionais.

Atualmente, mais de 1 bilhão de pessoas estão acima do peso ideal, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). A entidade da ONU já classifica essa situação como uma "epidemia de obesidade", uma vez que o número de afetados cresce rapidamente, incluindo crianças e adolescentes.

Tradicionalmente, o índice de massa corporal (IMC) tem sido a principal diretriz para o diagnóstico de obesidade. O IMC é calculado dividindo-se o peso em quilos pelo quadrado da altura em metros. Por exemplo, uma pessoa que mede 1,75 metro e pesa 70 quilos tem um IMC de 22,86.

Um IMC de 30 ou mais indica obesidade, o que se aplica a cerca de 25% da população alemã e, segundo a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), a quase 20% dos brasileiros.

No entanto, especialistas concordam que o IMC isoladamente não é um indicador suficiente de sobrepeso, pois não diferencia entre gordura e massa muscular e não reflete o estado de saúde individual.

Uma comissão internacional composta por mais de 50 especialistas desenvolveu diretrizes diagnósticas alternativas, levando em consideração também dados sobre gordura corporal e medidas físicas. Em artigo publicado na revista The Lancet Diabetes & Endocrinology, os especialistas sugerem três fatores adicionais ao IMC:

  • Uma medida da massa corporal, como a circunferência da cintura, relação cintura-quadril ou relação cintura-altura;
  • Duas medidas da massa corporal, independentemente do IMC;
  • Medição direta da gordura corporal.

Além disso, é fundamental observar sinais ou sintomas de um estado de saúde comprometido. Se o IMC ultrapassa 40, é razoável supor que haja um nível excessivo de gordura corporal.

O sobrepeso infantil é uma preocupação crescente, pois crianças com excesso de peso têm maior risco de desenvolver diabetes tipo 2, hipertensão arterial e dislipidemia, além de possíveis danos a órgãos internos, como esteatose hepática (fígado gordo) e problemas circulatórios.

O excesso de peso também sobrecarrega ossos e articulações, resultando em artrose e problemas na coluna vertebral. Crianças com adiposidade excessiva correm maior risco de apneia do sono e asma, e metade delas pode sofrer de obesidade ao longo da vida. O risco de doenças graves e potencialmente fatais aumenta com o IMC.

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As novas diretrizes também buscam esclarecer quando o excesso de peso deve ser classificado como uma doença. Os membros da comissão médica propõem duas definições de obesidade que requerem estratégias terapêuticas distintas:

  • Obesidade pré-clínica: adiposidade com funções orgânicas normais. Os afetados não são considerados doentes crônicos, mas apresentam risco elevado de desenvolver outras enfermidades. Com a assistência adequada, essa condição pode ser amenizada.
  • Obesidade clínica: apresenta sintomas de função orgânica comprometida e/ou limitações significativas nas atividades diárias. Portadores de obesidade clínica são considerados doentes crônicos e necessitam de tratamento urgente.

Com essa proposta, os cientistas esperam resolver a longa controvérsia sobre a classificação da obesidade como doença, possibilitando abordagens terapêuticas mais específicas e eficazes. Isso também permitiria uma distribuição mais racional de recursos e uma priorização justa das opções de tratamento disponíveis.

As propostas da comissão, divulgadas na The Lancet, têm gerado divisões na comunidade médica. Alguns defendem que a definição de obesidade deve ser questionada e ampliada.

“Considerando exclusivamente o IMC, até atletas com grande massa muscular podem apresentar um índice elevado”, observa Susanna Wiegand, diretora do ambulatório pediátrico de obesidade da renomada Clínica Charité de Berlim.

“Além disso, já existe o conceito de ‘obesidade saudável’, que se refere a indivíduos com excesso de peso que não apresentam doenças. Portanto, uma definição de obesidade baseada apenas no IMC pode ser imprecisa, incluindo pessoas que não sofrem de obesidade”, acrescenta.

Martin Wabitsch, diretor do departamento de endocrinologia e diabetologia pediátrica da Clínica Universitária de Ulm, concorda que a nova definição pode representar um avanço significativo na abordagem de pacientes, especialmente entre crianças e adolescentes. “Até agora, havia dificuldade em classificar a obesidade como doença nesse grupo”, afirma.

Por outro lado, o médico Thomas Reinehr critica a nova terminologia, considerando-a vaga e de valor agregado restrito. Ele argumenta que a medição do IMC é exata e reproduzível, enquanto medições como a circunferência da cintura podem variar entre examinadores e dependem de fatores como a hidratação e o momento do dia.

Reinehr acredita que a nova definição pode levar a uma redução no número de indivíduos classificados como obesos, criando a falsa impressão de que o problema está diminuindo. Além disso, menos pacientes poderiam ter suas terapias de redução de peso cobertas pelos planos de saúde.

Ele considera que a discussão sobre o IMC é, em grande parte, acadêmica, pois atualmente os estudos clínicos e a classificação individual dos pacientes também levam em conta comorbidades e a distribuição da gordura corporal.

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