Novas diretrizes sobre prevenção de AVC destacam riscos específicos em mulheres
Atualizações da American Heart Association e American Stroke Association enfatizam cuidados preventivos e estilo de vida.
Após uma década sem alterações, a American Heart Association e a American Stroke Association, ambas dos Estados Unidos, revisaram suas diretrizes para a prevenção de acidentes vasculares cerebrais (AVC). O novo documento, publicado em outubro de 2024 na revista especializada Stroke, traz orientações focadas em cuidados preventivos e mudanças no estilo de vida, com ênfase na prevenção de derrames em mulheres.
O AVC é uma das principais causas de morte e incapacidade em todo o mundo, afetando especialmente países de baixa e média renda, onde os sistemas de saúde frequentemente não estão preparados para prevenir, diagnosticar ou tratar essa condição de forma eficaz. De acordo com as novas diretrizes, mais da metade dos casos de AVC são considerados evitáveis.
Os principais fatores de risco incluem hipertensão arterial, colesterol elevado, diabetes e obesidade, que contribuem significativamente para o aumento das complicações. No Brasil, cerca de 1,5% da população sofre AVC anualmente, conforme a Estatística Cardiovascular 2023 da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Além disso, estima-se que aproximadamente 2 milhões de brasileiros vivam com sequelas, sendo a condição mais prevalente entre pessoas com mais de 60 anos.
A neurologista Polyana Piza, do Hospital Israelita Albert Einstein de Goiânia, observa que a atenção aos fatores de risco mencionados nas diretrizes é realizada rotineiramente, mas com um foco maior nas doenças cardíacas, como o infarto. “Há uma necessidade de correlacioná-las com maior ênfase ao AVC e isso ainda não é feito”, comenta.
Segundo a médica, a prevenção do AVC requer a participação do governo, das instituições de saúde, da sociedade civil e da população em geral. “É importante que todos se envolvam na prevenção dos derrames para reduzirmos o número de mortes e sequelas causadas por essa doença”, frisa.
O documento também recomenda aumentar a conscientização sobre os benefícios de mudanças no estilo de vida, como parar de fumar, aumentar a atividade física, melhorar os hábitos alimentares e ter uma melhor qualidade de sono. “Publicações científicas atuais comprovam que essas mudanças muitas vezes são capazes não só de diminuir o impacto da doença, mas também silenciar genes responsáveis por algumas delas”, relata Piza. “Esses achados são animadores e nos trazem de forma muito concreta o impacto, inclusive em fatores do organismo já pré-determinados.”
Foco nas mulheres
Além dos cuidados gerais que qualquer pessoa deve ter para prevenir eventos vasculares, as novas diretrizes enfatizam que as mulheres devem ser monitoradas quanto a fatores específicos de sexo e gênero que podem aumentar o risco de AVC. Isso inclui o uso de anticoncepcionais orais e complicações na gravidez, como hipertensão e parto prematuro. O documento ressalta a importância de tratar adequadamente a pressão arterial elevada durante a gestação e até seis semanas após o parto para reduzir a probabilidade de um derrame.
Outros pontos de atenção mencionados incluem endometriose, insuficiência ovariana prematura e menopausa de início precoce. Mulheres transgênero e pessoas que utilizam estrogênios para afirmação de gênero também podem ser mais suscetíveis a sofrer um AVC.
Polyana Piza observa que, além dos fatores hormonais, muitas mulheres enfrentam uma jornada de trabalho dentro e fora de casa. Essa sobrecarga, segundo a médica, muitas vezes se soma a hábitos como tabagismo e consumo de álcool, que eram predominantemente mais comuns entre homens. “Esses fatores contribuem para um descontrole maior nos níveis pressóricos, a piora da qualidade do sono e dos níveis de colesterol”, alerta a neurologista.
Além disso, é importante ter atenção aos possíveis danos cerebrais e cardiovasculares causados pelo uso de implantes hormonais manipulados. “Esse dado não está nos documentos recém-lançados nos EUA, mas vemos cada vez mais mulheres usando os chamados ‘chips da beleza’, que são uma mistura de hormônios que potencialmente podem alterar a configuração das paredes do vaso arterial e promover dissecções”, diz Piza.
Por fim, a médica destaca a importância da prevenção secundária do AVC, que inclui o tratamento adequado de pessoas que já tiveram um derrame ou ataque isquêmico transitório (AIT). O tratamento envolve o uso de medicamentos para controlar a pressão arterial, o colesterol e a coagulação sanguínea, além de mudanças no estilo de vida.
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