Hilda, a primeira bezerra do rebanho de Langhill, é um avanço na busca por uma pecuária mais sustentável e menos poluente.
17 de Janeiro de 2025 às 07h09

Bezerra escocesa criada por fertilização in vitro promete reduzir emissões de metano

Hilda, a primeira bezerra do rebanho de Langhill, é um avanço na busca por uma pecuária mais sustentável e menos poluente.

O nascimento de Hilda, uma bezerra leiteira na Escócia, está sendo celebrado como um marco importante nos esforços para reduzir as emissões de gases de efeito estufa na pecuária. Criada por meio de fertilização in vitro, Hilda é a primeira do rebanho de Langhill, localizado no sul do país, projetada para emitir menos metano, um potente gás de efeito estufa.

Os arrotos e o esterco do gado são responsáveis por cerca de 30% das emissões globais de metano, que é até 80 vezes mais potente que o dióxido de carbono em um período de 20 anos. Essa bezerra representa um avanço significativo para a indústria de laticínios, que busca se tornar mais verde e sustentável.

Veterinários e cientistas saudaram a chegada de Hilda como um passo importante na redução da pegada de carbono do setor. Mike Coffey, professor da Scotland's Rural College, uma instituição focada em sustentabilidade e parceira do projeto, explica que Hilda é o resultado da combinação de três tecnologias inovadoras.

Essas tecnologias incluem a capacidade de prever a produção de metano de uma vaca com base em seu DNA, a extração de óvulos de vacas mais jovens e a fertilização com sêmen selecionado. Coffey afirma: “Você mistura essas três [tecnologias] e isso permite acelerar a seleção de fêmeas para reduzir a produção de metano, um bezerro de cada vez.”

Rob Simmons, do Paragon Veterinary Group, também envolvido no projeto, destacou que o “aprimoramento genético na eficiência do metano” é fundamental para garantir a produção de alimentos nutritivos, ao mesmo tempo em que se controla o impacto ambiental das emissões de metano.

O rebanho de Langhill é conhecido por ser o projeto de genética de gado mais antigo do mundo, focando na seleção de vacas com base em saúde, fertilidade, produtividade e consumo de ração. Até agora, a seleção tradicional conseguiu reduzir as emissões de metano em cerca de 1% ao ano, mas a nova técnica promete aumentar essa redução em 50% anualmente, resultando em um corte de 30% nas emissões nos próximos 20 anos.

Um estudo canadense recente sugeriu que fazendeiros que adotarem práticas semelhantes poderão alcançar reduções de até 30% nas emissões de metano até 2050. Atualmente, existem cerca de 1,5 bilhão de bovinos no mundo, dos quais aproximadamente 270 milhões são vacas leiteiras. O setor global de laticínios foi avaliado em quase 900 bilhões de dólares em 2022.

Embora a produção de uma vaca como Hilda custe atualmente cerca de duas vezes o valor econômico do animal, Coffey acredita que o projeto pode demonstrar viabilidade a longo prazo. “Não seria lucrativo [para os fazendeiros] da forma como está atualmente. Mas o objetivo desse projeto foi demonstrar que ele pode funcionar”, afirma.

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A próxima etapa envolve encontrar formas de financiar a ampliação do projeto, com Coffey sugerindo que o governo poderia desempenhar um papel semelhante ao que fez com a promoção de carros elétricos.

Coffey também compara a transição para uma pecuária mais sustentável com a mudança para veículos elétricos, afirmando que haverá um momento em que os carros a gasolina deixarão de ser produzidos, mas os existentes ainda terão uma vida útil, assim como o rebanho de vacas.

Além da seleção genética, outros projetos estão explorando o uso de aditivos alimentares, como algas marinhas, e a captura de metano do esterco para transformá-lo em biogás, que pode ser utilizado como combustível ou para aquecer residências.

O rebanho de Langhill também participa de estudos que investigam como mudanças na dieta e o uso de fertilizantes afetam as emissões de gases de efeito estufa na pecuária leiteira. Coffey destaca que muitos países estão adotando estratégias semelhantes, caracterizando uma corrida internacional para reduzir as emissões de metano dos ruminantes.

Entretanto, cientistas alertam que as emissões de metano estão aumentando mais rapidamente do que qualquer outro gás de efeito estufa, conforme um estudo da Universidade Stanford. Eles afirmam que as melhorias tecnológicas na gestão das fazendas não são suficientes para atingir as metas do Acordo de Paris, que visa limitar o aquecimento global a 1,5 grau Celsius em relação ao período pré-industrial.

Para alcançar esse objetivo, é necessário reduzir significativamente a produção de carne e laticínios e promover dietas mais baseadas em vegetais. Os setores de carne e laticínios são responsáveis por 12% a 20% das emissões globais de gases de efeito estufa e 60% das emissões dos sistemas alimentares, em grande parte devido ao desmatamento para pastagens e à produção de ração.

Estudos indicam que a redução do consumo de carne e laticínios poderia diminuir as emissões globais da dieta em até 17%. Além disso, uma redução de 45% nas emissões de metano até 2030 poderia evitar um aumento de 0,3°C na temperatura global.

Apesar do crescimento das alternativas à base de plantas, como leite de amêndoas e aveia, cerca de 6 bilhões de pessoas consomem leite e laticínios, e a demanda deve continuar a crescer na próxima década, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), que também projeta um aumento de até 14% no consumo global de carne até 2030.

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