CNC aponta que 1,8 milhão de brasileiros se tornaram inadimplentes devido ao uso excessivo de plataformas de apostas.
17 de Janeiro de 2025 às 17h55

Estudo revela que apostas online causaram perdas de R$ 103 bilhões ao varejo em 2024

CNC aponta que 1,8 milhão de brasileiros se tornaram inadimplentes devido ao uso excessivo de plataformas de apostas.

A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) divulgou um estudo que aponta que o varejo brasileiro deixou de faturar R$ 103 bilhões em 2024, consequência do redirecionamento dos gastos das famílias para apostas online, conhecidas como bets. O levantamento, intitulado "O Panorama das Bets", foi apresentado em 16 de janeiro de 2025, no Rio de Janeiro, e revela que os brasileiros destinaram cerca de R$ 240 bilhões a essas plataformas ao longo do ano.

Segundo a CNC, o impacto das apostas online não se limita aos apostadores, mas gera consequências socioeconômicas significativas para a sociedade. O estudo destaca que aproximadamente 1,8 milhão de brasileiros entraram em situação de inadimplência devido ao uso excessivo dessas plataformas, especialmente entre as famílias de menor renda.

A atuação das bets no Brasil foi autorizada pela Lei Federal 13.756, aprovada em 2018, que legalizou as apostas esportivas. Desde então, o setor cresceu rapidamente, com investimentos massivos em publicidade e patrocínios, principalmente no futebol. No entanto, a CNC expressa preocupação com a falta de regulamentação adequada, especialmente no que diz respeito aos cassinos online, que proliferaram sem controle.

O estudo revela que cerca de 80% dos gastos dos usuários nas bets estão relacionados a modalidades de cassino online, como o popular Jogo do Tigrinho. Economistas envolvidos na pesquisa afirmam que a ausência de regulamentação do Ministério da Fazenda contribui para um “limbo regulatório”, permitindo que os sites de apostas incorporassem livremente os cassinos online.

“Além disso, a falta de regulamentação facilitou a lavagem de dinheiro e outras atividades ilícitas, prejudicando a economia formal. A crescente popularidade dos cassinos online desvia recursos que poderiam ser utilizados em setores produtivos, como o comércio varejista”, afirma o estudo da CNC.

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O levantamento também aponta que, ao longo de 2024, o percentual de famílias com contas em atraso aumentou de 26% para 29% entre aquelas com renda de 3 a 5 salários mínimos, enquanto o grupo com renda de 5 a 10 salários mínimos viu uma redução de 2,6 pontos percentuais, fechando em 22%. A CNC alerta que a inadimplência elevada pode levar a uma desaceleração econômica e aumento da taxa de juros.

As preocupações em torno das apostas online, especialmente entre beneficiários do Bolsa Família, foram destacadas em uma nota técnica do Banco Central, que revelou que esses beneficiários gastaram R$ 3 bilhões em bets em um único mês. Em resposta, o governo federal anunciou medidas para aumentar o controle sobre as apostas, incluindo um pente-fino nos sites e o bloqueio de plataformas não autorizadas.

Em novembro de 2024, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que o governo adotasse medidas para impedir que beneficiários do Bolsa Família utilizassem recursos do programa em apostas online. A decisão foi baseada na constatação de que o programa, criado em 2003, visa garantir alimentação, saúde e educação, assegurando a dignidade das famílias atendidas.

O estudo da CNC defende a adoção de medidas regulatórias adicionais, como limites de apostas, programas de prevenção e tratamento para viciados, e campanhas de conscientização sobre os riscos associados às apostas. A entidade também ressalta a importância da regulamentação dos cassinos físicos, que poderiam gerar empregos e beneficiar a economia local.

Os dados apresentados no estudo indicam que, se os recursos gastos em apostas fossem redirecionados para o consumo de bens e serviços, haveria um aumento significativo na atividade econômica e no PIB. A CNC sugere que a regulamentação adequada do setor de apostas poderia favorecer a arrecadação de tributos, que poderiam ser utilizados para financiar programas sociais e de saúde.

Em um cenário mais amplo, a CNC argumenta que a legalização e regulamentação dos cassinos físicos poderiam gerar uma arrecadação anual de pelo menos R$ 22 bilhões em impostos, em contraste com os R$ 14 bilhões que as apostas online poderiam gerar. A entidade destaca que, enquanto as apostas online comprometem a renda das famílias, os cassinos regulamentados podem contribuir para a geração de emprego e renda nas comunidades onde estão localizados.

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