Inflação de serviços deve continuar alta no primeiro trimestre de 2025, alerta BC
Expectativa de atividade econômica e mercado de trabalho resilientes pressiona inflação e taxa Selic
A inflação de serviços, monitorada de perto pelo Banco Central (BC) para definir a trajetória da taxa Selic, deve permanecer elevada ao longo do primeiro trimestre de 2025. Essa situação é vista como um fator adicional que pode acelerar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) durante o período, conforme a análise de economistas consultados pelo sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
Os especialistas apontam que a expectativa de uma atividade econômica robusta e um mercado de trabalho ainda resiliente são os principais motores dessa pressão inflacionária, com uma possível desaceleração prevista apenas para o segundo semestre deste ano.
A pressão sobre a inflação de serviços também representa um alerta para a dinâmica dos juros. O BC já enfrenta um cenário de depreciação cambial, expectativas de inflação desancoradas e aumento nos preços de alimentos. Como resposta, a autoridade monetária já programou duas elevações de 1 ponto percentual na taxa Selic, previstas para as reuniões de janeiro e março, conforme o forward guidance apresentado na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). A taxa básica de juros deve atingir, no mínimo, 14,25% neste ano.
A economista do BNP Paribas, Laiz Carvalho, afirma que o elevado nível da inflação de serviços está alinhado com as diretrizes do Banco Central. “O cenário é semelhante ao que já observávamos. A inflação não deve apresentar, por enquanto, sinais de alívio”, destaca.
Na média móvel trimestral anualizada e dessazonalizada, que ajuda a entender as tendências de curto prazo, os serviços indicam uma alta de 6%, enquanto os serviços subjacentes apresentam um aumento de 8,5%, bem acima da meta de inflação de 4,5%, conforme os cálculos da economista.
“Essa é uma preocupação não apenas do BC, mas do mercado como um todo. Isso está relacionado não apenas ao nível da atividade, mas também ao nível de renda que permanece elevado. Isso demonstra que a economia ainda está muito aquecida, o que é negativo para a inflação, devido à pressão sobre os preços, e para o BC, que deverá manter os juros altos por mais tempo”, explica Carvalho. “O que ocorreu com a inflação no final de 2024 deve se repetir no primeiro semestre, com serviços e serviços subjacentes sob pressão”, alerta.
O IPCA encerrou 2024 com uma alta de 4,83%, superando o teto da meta de 4,5%, como já era esperado por analistas. Agora, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, deve redigir uma carta aberta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para explicar o descumprimento do alvo de inflação do último ano. Esse resultado ocorreu durante a gestão de Roberto Campos Neto, mas foi divulgado sob a liderança de Galípolo.
O Santander Brasil também corrobora a visão de que o mercado de trabalho forte e a atividade econômica ainda impõem pressão sobre a inflação de serviços. “A situação continua preocupante”, enfatiza o banco, que destaca a elevação nas aberturas de serviços no final de 2024. “Os serviços intensivos em mão de obra aumentaram de 5,5% para 6,5% na média móvel trimestral anualizada e dessazonalizada, o nível mais alto desde o final de 2022”, ressalta.
Os serviços inerciais subiram de 7,2% para 9,5%, enquanto os serviços sensíveis à ociosidade passaram de 6,8% para 8%, todos nessa mesma métrica, segundo os cálculos do banco.
Para a economista-chefe da Gap Asset, Anna Reis, ainda levará tempo para que haja uma trégua na alta da inflação de serviços. “Embora esperemos uma desaceleração no segundo semestre, com uma atividade mais fraca e os efeitos do aperto monetário, não prevemos uma melhora tão cedo em serviços”, afirma. Ela destaca a importância da dinâmica de serviços bancários, serviços ligados à ociosidade e serviços digitais neste primeiro trimestre.
A estrategista de inflação da Warren Investimentos, Andrea Angelo, observa que o IPCA de 2024 trouxe uma reaceleração já esperada para os núcleos de inflação, com ênfase nos serviços. Ela acredita, no entanto, que, apesar de continuar em um nível elevado, a inflação de serviços não deve causar uma piora significativa no primeiro trimestre.
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