Aumento nos preços dos combustíveis pode impactar o índice de inflação de fevereiro, afetando o orçamento familiar.
19 de Janeiro de 2025 às 18h02

Defasagem da gasolina e diesel cresce e alerta para inflação em 2025

Aumento nos preços dos combustíveis pode impactar o índice de inflação de fevereiro, afetando o orçamento familiar.

Uma escalada significativa no preço do petróleo no mercado internacional, impulsionada por um novo pacote de sanções contra o setor energético da Rússia, chega ao Brasil em um momento crítico. A Petrobras enfrenta uma defasagem considerável em seus preços, que resultou em reajustes de 25% no diesel e 16% na gasolina em agosto de 2023. Um novo aumento agora, para corrigir essa defasagem, pode impactar a inflação de 2025, especialmente em fevereiro, mas também traria alívio para importadores e produtores de etanol, que estão perdendo espaço nos postos de abastecimento devido aos preços estagnados.

De acordo com dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), a defasagem média do diesel nas refinarias da Petrobras, em relação ao preço praticado no Golfo do México, chegou a 22% na última sexta-feira, enquanto a gasolina ficou em 13%. Mesmo na Refinaria de Mataripe, que ajusta seus preços semanalmente, o diesel é vendido 11% abaixo do mercado internacional, e a gasolina a um preço 7% inferior.

O preço do diesel não é reajustado há 383 dias nas refinarias da estatal, e a gasolina, há 188 dias. No dia 1º de janeiro, a estatal elevou o querosene de aviação (QAV), cujos reajustes mensais são por contrato, em 7%.

“Não é necessário a Petrobras trabalhar com uma defasagem tão alta. Isso prejudica não só importadores, mas também produtores de etanol. O câmbio não tem expectativa de redução enquanto não houver equilíbrio fiscal, e o petróleo só aumenta. Se a companhia praticar um preço um pouco abaixo da defasagem, já ganha muito dinheiro”, afirmou o presidente da Abicom, Sérgio Rodrigues, em declaração ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

Inflação

Segundo André Braz, economista e coordenador do Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) da Fundação Getulio Vargas (FGV), será difícil para a Petrobras evitar um reajuste diante dessa defasagem por muito tempo. A expectativa é de que os combustíveis sejam reajustados em breve, o que pesará na inflação de janeiro e, principalmente, de fevereiro. A gasolina, que compromete 5% do orçamento familiar no Brasil, é a maior preocupação no índice oficial de inflação, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).

“Várias pressões inflacionárias estão se acumulando. Já tivemos aumentos importantes no transporte público, e teremos alta nas mensalidades escolares e no IPVA (Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores). Acredito que a gasolina terá reajuste em breve. A desvalorização cambial acumulada e a nova tendência de alta do petróleo indicam que isso deve acontecer”, explicou Braz ao Broadcast.

Ele ressalta que, em janeiro, o impacto inflacionário não será tão grande, graças ao bônus da Usina Hidrelétrica de Itaipu, que permitirá uma redução média de 13% na conta de energia. “Isso fará o IPCA recuar em torno de 0,50 ponto percentual em janeiro, mas o problema será em fevereiro”, acrescentou, prevendo que o IPCA de janeiro pode ficar em torno de 0,2% e o de fevereiro acima de 1%.

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O cenário da inflação nos próximos meses também dependerá do comportamento do câmbio. Enquanto o câmbio pode estimular as exportações, o que é benéfico para a balança comercial do país, ele também pressiona os preços internos. “Ao exportar, a oferta doméstica é reduzida, o que pressiona a inflação e torna mais caro tudo o que importamos, como trigo e gasolina”, explicou Braz.

Mercado

De acordo com a analista de Inteligência de Mercado da StoneX, Isabela Garcia, o petróleo atingiu o maior patamar desde outubro do ano passado, impulsionado pelas sanções contra o setor de energia da Rússia. Hoje, por volta das 13h, a commodity do tipo Brent registrava alta de 1,75%, cotada a US$ 81,04 o barril.

“Na tentativa de restringir e limitar os ganhos que o governo russo tinha com as exportações de petróleo, derivados e gás natural, as novas restrições acabam englobando produtores de petróleo e gás importantes, além de adicionar 183 navios, traders, seguradoras e outros agentes envolvidos na movimentação de produtos russos no comércio internacional a essa lista de sanções”, explicou Garcia, destacando que esse movimento aumenta os riscos e a dificuldade de negociar produtos russos no mercado internacional.

Ela também destacou a preocupação com a disponibilidade do petróleo russo no mercado internacional, em um contexto de um balanço de oferta e demanda global já apertado, considerando que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) tem feito restrições sobre a oferta do grupo no início deste ano.

“Se há preocupações de que países que dependem muito do petróleo russo, como Índia e China, se voltem para outros fornecedores nesse curto prazo para atender à necessidade doméstica, enquanto esperam maiores direcionamentos dos próprios governos e buscam alternativas para as novas sanções”, afirmou a analista, lembrando que o movimento contra a Rússia já era especulado há algum tempo no mercado.

Petrobras

No final do ano passado, quando o petróleo ainda não tinha batido os US$ 80 o barril, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, afirmou em entrevista ao Canal Livre, da Band News, que não havia intenção de mexer nos preços, e que a empresa estava ganhando dinheiro mesmo com os preços “abrasileirados”. O diretor financeiro e de relações com investidores da Petrobras, Fernando Melgarejo, também disse que não havia “correria para reajustar os combustíveis”.

A estatal não se manifestou sobre um possível reajuste nos preços dos combustíveis até a publicação deste texto.

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