Taxa de detecção de arsênio entre crianças saltou de 42% em 2021 para 57% em 2023
24 de Janeiro de 2025 às 17h56

Estudo revela presença alarmante de metais na urina de crianças em Brumadinho

Taxa de detecção de arsênio entre crianças saltou de 42% em 2021 para 57% em 2023

Um estudo realizado pela Fiocruz Minas e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) revelou que crianças de até seis anos em Brumadinho, Minas Gerais, apresentam níveis preocupantes de metais pesados em suas urinas, resultado do desastre ambiental causado pelo rompimento da barragem da Mineradora Vale, ocorrido há seis anos. O percentual de crianças com arsênio acima do limite de referência aumentou de 42% em 2021 para 57% em 2023.

A pesquisa, que analisa as condições de vida e saúde da população local, constatou a presença de pelo menos um dos cinco metais analisados — cádmio, arsênio, mercúrio, chumbo e manganês — em todas as amostras coletadas. O estudo, que acompanha os participantes anualmente desde 2021, busca entender as mudanças nas condições de saúde a médio e longo prazo.

Os dados indicam que o arsênio é o metal mais frequentemente encontrado em níveis superiores aos limites de referência, com cerca de 20% das amostras de adultos e 9% de adolescentes apresentando contaminação. Em algumas regiões, esse percentual pode chegar a 20,4% entre os adolescentes. A pesquisa também destaca que, embora tenha havido uma redução nos níveis de manganês, a exposição a metais como arsênio e chumbo permanece alta.

Os pesquisadores alertam que os resultados indicam exposição a esses metais, mas não necessariamente intoxicação, que só pode ser confirmada por avaliações clínicas adicionais. A Fiocruz recomenda que todos os participantes que apresentaram níveis elevados realizem uma avaliação médica para um diagnóstico mais completo.

Além disso, é fundamental a criação de uma rede de atenção à saúde que possibilite a realização de exames de dosagem de metais não apenas para os participantes do estudo, mas para toda a população de Brumadinho. Essa medida é necessária, visto que a exposição a esses metais continua disseminada no município.

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O estudo também avaliou a saúde geral da população, com base em diagnósticos médicos anteriores e na percepção dos próprios participantes. A maioria dos adultos e adolescentes avaliou sua saúde como boa ou muito boa, mas a percepção de saúde ruim se manteve alta nas áreas afetadas pela lama e pela atividade mineradora.

Entre os adolescentes, o aumento na prevalência de doenças crônicas, como asma e colesterol alto, foi notado, com taxas subindo de 12,7% para 14% e de 4,7% para 10,1%, respectivamente, entre 2021 e 2023. Os adultos também relataram um aumento na incidência de hipertensão e diabetes, indicando um agravamento das condições de saúde na região.

A pesquisa incluiu uma análise dos sintomas relatados nos 30 dias anteriores à entrevista, mostrando um aumento significativo em queixas como irritação nasal e dormências. Esses dados ressaltam a necessidade de uma atenção especial aos serviços de saúde em Brumadinho, considerando a relação entre a saúde da população e as condições ambientais locais.

O estudo, intitulado Programa de Ações Integradas em Saúde de Brumadinho, é dividido em duas frentes: uma focada em adultos e outra voltada para crianças de até seis anos, chamada Projeto Bruminha. A amostra inicial em 2021 incluiu 3.297 participantes, enquanto em 2023 foram 2.825, abrangendo diversas áreas do município, incluindo as mais afetadas pelo desastre.

Os pesquisadores enfatizam a importância do acompanhamento contínuo da saúde da população, especialmente das crianças, que podem ser mais vulneráveis aos efeitos da exposição a metais pesados. A articulação entre as equipes de saúde e educação é recomendada para potencializar o desenvolvimento infantil e mitigar os impactos negativos do desastre.

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