MST critica governo Lula e exige assentamento de 100 mil famílias sem-terra
Carta do movimento, divulgada após reunião em Belém, destaca paralisia da reforma agrária e atuação do Congresso Nacional
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) publicou uma carta aberta durante sua Coordenação Nacional, realizada entre 20 e 24 de janeiro em Belém, no Pará, criticando o que considera uma “paralisação da reforma agrária” no Brasil. O documento, que reúne as vozes de 400 dirigentes de 23 estados e do Distrito Federal, também estabelece compromissos para o ano de 2025, com foco na luta pela terra e na promoção da justiça social.
No texto, o MST aponta que “no campo, aponta-se para uma paralisação da reforma agrária” e critica o modelo do agronegócio, que, segundo o movimento, contribui para a crise ambiental e a desigualdade social. O MST defende uma “reforma agrária popular” como solução para esses problemas, enfatizando a necessidade de uma agenda concreta que promova a autonomia e a melhoria da qualidade de vida nas áreas rurais.
Entre as metas estabelecidas, o movimento destaca a pressão sobre o governo federal para assentar 100 mil famílias sem-terra que atualmente estão acampadas. O MST também exige a demarcação de territórios indígenas e quilombolas, reforçando a importância de um orçamento adequado para essas ações.
As críticas ao governo Lula não são novas. Em 2023, João Pedro Stedile, economista e um dos fundadores do MST, expressou sua insatisfação com a falta de avanços em programas de crédito para assentados e iniciativas educacionais voltadas para jovens camponeses. Em julho de 2024, Stedile chegou a dar “nota 3” à política de democratização da terra do governo, citando a falta de atenção ao movimento.
O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) informou que, em 2024, 71.414 famílias foram assentadas, representando um aumento de 42% em relação ao ano anterior. No entanto, o MST contesta esses números, alegando que muitos dos assentamentos citados referem-se à regularização de famílias já existentes e não à criação de novos assentamentos.
Além de exigir ações imediatas, o MST destaca a importância da produção de alimentos saudáveis por meio da agroecologia e do fortalecimento da cooperação entre pequenos produtores. “Produzir alimentos saudáveis para todo o povo brasileiro, combatendo os agrotóxicos e respeitando a diversidade dos biomas” é um dos pontos centrais da carta.
O encontro em Belém também teve um simbolismo histórico, sendo realizado na região amazônica, marcada pela resistência de povos indígenas e camponeses. O movimento enfatizou a importância de resgatar memórias de lutas passadas, como a Cabanagem e os massacres de Eldorado do Carajás, reafirmando seu compromisso com a justiça social e ambiental.
O documento do MST inclui uma série de compromissos, como a defesa da terra e dos bens da natureza, a luta por justiça climática e a construção de estratégias de enfrentamento ao imperialismo e ao racismo. O movimento também manifestou solidariedade a outras lutas internacionais, destacando seu alinhamento com países como Cuba e Venezuela.
O MST reafirma sua intenção de mobilizar a indignação coletiva para enfrentar as injustiças e desigualdades, enfatizando que a emancipação humana é seu objetivo e que a reforma agrária popular é o caminho que está sendo construído.
O movimento conclui sua carta com um apelo à ação e à resistência, convocando a classe trabalhadora a se unir em torno de suas bandeiras e a lutar por um futuro mais justo e igualitário.
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