Guerra de narrativas sobre deportados gera embate entre políticos brasileiros
Discussões acirradas nas redes sociais marcam a ordem do governo para retirar algemas de deportados brasileiros vindos dos EUA.
O debate entre políticos governistas e oposicionistas nas redes sociais ganhou novos contornos nos últimos dias, impulsionado pela ordem do governo brasileiro para a retirada de algemas e correntes dos brasileiros deportados pelos Estados Unidos, após entrarem ilegalmente no país norte-americano.
O assunto, que ganhou destaque na sexta-feira, 24, provocou uma troca intensa de narrativas. Políticos alinhados ao governo Lula elogiaram a decisão, atribuindo a responsabilidade pela situação ao ex-presidente dos EUA, Donald Trump, enquanto oposicionistas, especialmente bolsonaristas, acusaram a esquerda de hipocrisia, lembrando que os deportados estavam em um voo que ainda era parte da gestão de Joe Biden, que deixou a presidência no dia 20 de janeiro.
A deportação em massa de imigrantes ilegais foi uma das principais promessas de campanha de Trump. O voo que trouxe 158 deportados ao Brasil, incluindo 88 brasileiros, é parte de um processo que já estava em andamento antes da posse do republicano, durante a administração de Biden.
Os deportados que chegaram a Manaus relataram maus-tratos por parte de agentes americanos durante a viagem. Na capital amazonense, a aeronave fez um pouso de emergência devido a problemas técnicos. Após a chegada, as autoridades brasileiras determinaram a retirada das algemas e correntes, e a maioria dos deportados foi transferida no sábado para o aeroporto de Confins, na região metropolitana de Belo Horizonte, em um voo da Força Aérea Brasileira.
O Itamaraty criticou os Estados Unidos por descumprir acordos relacionados aos voos de deportação, alegando uso “indiscriminado” de algemas. Até o momento, a Embaixada americana não se manifestou sobre o ocorrido.
Do lado da oposição, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) comparou, em postagem na rede social X, as reações da esquerda em relação aos deportados com a postura em relação a condenados pelos ataques de 8 de janeiro. Ele afirmou: “Os mesmos que celebram penas de até 17 anos de cadeia para mães de família e senhoras como Iraci Nagashi, de 71 anos, agora se dizem compadecer com deportados. Mas mais uma vez trata-se de sinalização de virtude e seleção de fatos convenientes, pois destes 3.660 aqui nem um pio”.
Os mesmos que celebram penas de até 17 anos de cadeia para mães de família e senhoras como Iraci Nagashi, de 71 anos, agora se dizem compadecer com deportados. Mas mais uma vez trata-se de sinalização de virtude + seleção de fatos convenientes, pois destes 3.660 aqui nem um pio.
— Eduardo Bolsonaro (@BolsonaroSP)
Outro filho do ex-presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (RJ), também se manifestou, afirmando que “a hipocrisia da esquerda é algo absolutamente inerente à condição mental anormal chamada esquerdismo”. Ele acrescentou que a questão é a incapacidade de perceber contradições, afirmando: “Quando a democracia é relativa, tudo é relativo!”.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) republicou uma mensagem de um usuário que questionava por que a esquerda condenou a prática apenas agora.
Entre os governistas, além de protestos sobre a situação, houve críticas a aliados de Bolsonaro que apoiaram Trump. O deputado federal José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara, disparou: “Enquanto 88 brasileiros eram expulsos dos EUA, políticos bolsonaristas comemoravam a posse de Trump. Lula proibiu algemas e garantiu avião da FAB para resgatar os deportados. Já a extrema-direita brasileira? Preferiu celebrar quem quer humilhar nosso povo.”
A deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ) questionou se a família Bolsonaro compactua com as violências e humilhações que Trump impôs a famílias brasileiras, perguntando diretamente: “A pergunta é bem simples: @Mi_Bolsonaro e @BolsonaroSP estão ao lado dos brasileiros ou de Trump?”.
O deputado Alencar Santana (PT-SP) também criticou os oposicionistas, afirmando: “Deportados x Deputados bolsonaristas. Enquanto alguns brasileiros eram agredidos, algemados, acorrentados, ameaçados e torturados, alguns autodenominados ‘patriotas’ faziam dancinhas para bajular o governo do responsável pelos maus tratos aos seus conterrâneos.”
Ministros do governo elogiaram a atuação das autoridades brasileiras e alfinetaram os bolsonaristas. Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia, disse que é “vergonhoso e deprimente vermos uma minoria, mas ainda assim ‘representantes’ de nosso gigante pela própria natureza se subjugando ao arroubo, negacionismo ambiental, científico, bravatas e até mesmo à Paz global”.
Realmente dias estranhos. Vergonhoso e deprimente vermos uma minoria, mas ainda assim ‘representantes’ de nosso gigante pela própria natureza se subjugando ao arroubo, negacionismo ambiental, científico, bravatas e até mesmo à Paz global.
— Alexandre Silveira (@asilveiramg)
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