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Corte de financiamento dos EUA pode reverter avanços no combate ao HIV, alerta OMS
A Organização Mundial da Saúde destaca que a suspensão de recursos pode afetar milhões em países em desenvolvimento, incluindo o Brasil.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) expressou preocupações significativas sobre a recente decisão do governo dos Estados Unidos de suspender o financiamento a programas de combate ao HIV. Essa medida, segundo a entidade, pode representar uma "ameaça global" para milhões de pessoas que dependem desses serviços essenciais. A OMS alerta que essa suspensão pode comprometer o acesso a terapias antirretrovirais em países de baixa e média renda, incluindo o Brasil.
O corte de recursos afeta diretamente o Plano de Emergência do Presidente dos EUA para o Alívio da AIDS (PEPFAR), um dos principais programas globais de combate ao HIV. A OMS estima que mais de 30 milhões de pessoas podem ser impactadas pela decisão, o que pode reverter décadas de progresso na redução da mortalidade causada pelo vírus.
Em uma declaração oficial, a OMS enfatizou que “essas medidas, se prolongadas, podem levar ao aumento de novas infecções e mortes, revertendo décadas de progresso e possivelmente levando o mundo de volta aos anos 1980 e 1990, quando milhões morriam de HIV a cada ano, incluindo muitos nos Estados Unidos”.
A decisão do governo Trump proíbe que países beneficiados pelo PEPFAR distribuam medicamentos adquiridos com financiamento dos EUA, mesmo que os estoques já estejam disponíveis em clínicas locais. Como resultado, diversas unidades de atendimento foram fechadas e serviços foram suspensos em países africanos.
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Na África do Sul, organizações não governamentais (ONGs) que atuam no tratamento do HIV já interromperam suas atividades devido à falta de recursos. Na Nigéria, a perda do financiamento anual de aproximadamente US$ 390 milhões (cerca de R$ 1,9 bilhão) pode afetar severamente a estrutura de atendimento a pacientes.
Diante do impacto da decisão, a OMS fez um apelo para que o governo dos Estados Unidos reavalie a medida e conceda isenções que garantam a continuidade do tratamento para milhões de pessoas. “Pedimos ao governo dos Estados Unidos que conceda isenções adicionais para garantir a entrega de tratamento e cuidados essenciais para o HIV”, reiterou a entidade.
No Brasil, o PEPFAR tem desempenhado um papel crucial ao financiar ações que ampliam o acesso a autotestes de HIV em diversas capitais, além de fortalecer iniciativas de prevenção e diagnóstico precoce. O programa também colabora com instituições como a Fiocruz para desenvolver projetos de conscientização e ampliar o acesso à profilaxia pré-exposição (PrEP).
Atualmente, o Ministério da Saúde estima que cerca de 1 milhão de pessoas vivem com HIV no Brasil. Em 2023, foram registrados 46.495 novos casos no país, refletindo um aumento na taxa de infecção. Por outro lado, o número de mortes relacionadas à AIDS caiu para 10.338, o menor dos últimos dez anos.
A faixa etária mais afetada é a de 25 a 29 anos, que concentra 34% dos casos de AIDS no país, seguida pela faixa de 30 a 34 anos, com 32,5% dos casos.
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